CONTINUAREI A PESAR O VOSSO COMPORTAMENTO PARA AVALIAR SE MERECEIS SER TRANSPORTADOS NA MINHA BARCA

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

- " E O ROUBO CONTINUA..."

Eis uma denúncia que circula na internet:

Já sabiam desta?

Aliás, isto até é NORMA no PARLAMENTO onde estão aqueles CROMOS que votam as leis (para eles , claro)
Exemplo: Um deputado de LISBOA concorre por AVEIRO e fica com o SUBSÍDIO de DESLOCAÇÃO ... Tadinho !!!!!!!!!!!!!


O ministro das Finanças autorizou a concessão de um subsídio de Alojamento a Ascenso Simões, secretário de Estado da Protecção Civil, no montante de 75% do valor das ajudas de custo estabelecidas para os vencimentos superiores ao índice 405 da Função Pública, ou seja, são mais 1300 euros por mês

O próprio Teixeira dos Santos recebe este subsídio por não possuir residência em Lisboa. Está a viver no Porto, tendo residência oficial em Lisboa. Continua a dar aulas, ele e a mulher, na Universidade, no Porto e é Presidente da Bolsa de Valores do Porto.

Enquanto estes canalhas andam a roubar o direito ao salário e à carreira dos funcionários, ao mesmo tempo pagam-se a eles próprios "subsídios de residência", cujos montantes são superiores ao que auferem mensalmente 80% dos funcionários no seu próprio ministério! E isto só em "subsídio"! Ou seja, a técnica é esta: Rouba-se a muitos, para dar muito, a poucos! Esta é a política do desgoverno, dito "socialista"!

(Passe sff este e-mail, para que as pessoas saibam os pagamentos que os desgovernantes fazem a si próprios, tudo em nome da "lei")

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

-" Devem-me dinheiro ! ..."

Mário Crespo

José Sócrates em 2001 prometeu que não ia aumentar os impostos. E aumentou.Deve-me dinheiro.
António Mexia da EDP comprou uma sinecura para Manuel Pinho em Nova Iorque. Deve-me o dinheiro da sinecura de Pinho. E dos três milhões de bónus que recebeu. E da taxa da RTP na conta da luz.
Deve-me a mim e a Francisco C. que perdeu este mês um dos quatro empregos de uma loja de ferragens na Ajuda onde eu ia e que fechou. E perderam-se quatro empregos.Por causa dos bónus de Mexia. E da sinecura de Pinho. E das taxas da RTP.
Aníbal Cavaco Silva e a família devem-me dinheiro. Pelas acções da SLN que tiveram um lucro pago pelo BPN de 147,5 %. Num ano.
Manuel Dias Loureiro deve-me dinheiro. Porque comprou por milhões coisas que desapareceram na SLN e o BPN pagou depois. E eu pago pelo BPN agora. Logo, eu pago as compras de Dias Loureiro. E pago pelos 147,5 das acções dos Silva. Cavaco Silva deve-me muito dinheiro. Por ter acabado com a minha frota pesqueira em Peniche e Sesimbra e Lagos e Tavira e Viana do Castelo. Antes, à noite, viam-se milharesde luzes de traineiras. Agora, no escuro, eu como a Pescanova que chega de Vigo. Por isso Cavaco deve-me mais robalos do que Godinho alguma vez deu a Vara. Deve-me por ter vendido a ponte que Salazar me deixou e que eu agora pago à Mota Engil.
António Guterres deve-me dinheiro porque vendeu a EDP. E agora a EDP compra cursos em Nova Iorque para Manuel Pinho. E cobra a electricidade mais cara da Europa. Porque inclui a taxa da RTP para os ordenados e bónus da RTP. E para o bónus de Mexia.
A PT deve-me dinheiro. Porque não paga impostos sobre tudo o que ganha. E eu pago. Eu e a D. Isabel que vive na Cova da Moura e limpa três escritórios pelo mínimo dos ordenados. E paga Impostos sobre tudo o que ganha. E ficou sem abonos de família. E a PT não paga os impostos que deve e tenta comprar a estação de TV que diz mal do Primeiro-ministro.
Rui Pedro Soares da PT deve-me o dinheiro que usou para pagar a Figo o ménage com Sócrates nas eleições. E o que gastou a comprar a TVI.
Mário Lino deve-me pelos lixos e robalos de Godinho. E pelo que pagou pelos estudos de aeroportos onde não se vai voar. E de comboios em que não se vai andar. E pelas pontes que projectou e que nunca ligarão nada.
Teixeira dos Santos deve-me dinheiro porque em 2008 me disse que as contas do Estado estavam sãs. E estavam doentes. Muito. E não há cura para as contas deste Estado.
Os jornalistas que têm casas da Câmara devem-me o dinheiro das rendas. E os arquitectos também. E os médicos e todos aqueles que deviam pagar rendas e prestações e vivem em casas da Câmara, devem-me dinheiro. Os que construíram dez estádios de futebol devem-me o custo de dez estádios de futebol. Os que não trabalham porque não querem e recebem subsídios porque querem, devem-me dinheiro. Devem-me tanto como os que não pagam renda de casa e deviam pagar. Jornalistas, médicos, economistas, advogados e arquitectos deviam ter vergonha na cara e pagar rendas de casa. Porque o resto do país paga. E eles não pagam. E não têm vergonha de me dever dinheiro. Nem eles nem Pedro Silva Pereira que deve dinheiro à natureza pela alteração da Zona de Protecção Especial de Alcochete. Porque o Freeport foi feito à custa de robalos e matou flamingos. E agora para pagar o que devem aos flamingos e ao país vão vendendo Portugal aos chineses. Mas eles não nos dão robalos suficientes apesar de nos termos esquecido de Tien Amen e da Birmânia e do Prémio Nobel e do Google censurado. Apesar de censurarmos, também, a manifestação da Amnistia,não nos dão robalos. Ensinam-nos a pescar dando-nos dinheiro a conta gotaspara ir a uma loja chinesa comprar canas de pesca e isco de plástico e tentar a sorte com tainhas. À borda do Tejo. Mas pesca-se pouca tainha porque o Tejo vem sujo. De Alcochete. Por isso devem-me dinheiro. A mim e aos 600 mil que ficaram desempregados e aos 600 mil que ainda vão ficar sem trabalho. E à D.Isabel que vai a esta hora da noite ou do dia na limpeza de mais um escritório. Normalmente limpa três. E duas vezes por semana vai ao Banco Alimentar. E se está perto vai a um refeitório das Misericórdias. À Sexta come muito. Porque Sábado e Domingo estão fechados. E quando está doente vai para o centro de saúde às 4 da manhã. E limpa menos um escritório. E nessa altura ganha menos que o ordenado mínimo.
Por isso devem-nos muito dinheiro. E não adianta contratar o Cobrador do Fraque. Eles não têm vergonha nenhuma. Vai ser preciso mais para pagarem. Muito mais. Já.

In: Penthouse 10.11.10

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

-" Adida em Londres !

AFINAL OS NOSSOS JOVENS TÊM MÉRITO...OU NÃO????

De acordo com “O Correio da Manhã”, Maria Monteiro, filha do antigo Ministro António Monteiro e que, actualmente, ocupa o cargo de adjunta do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, vai para a Embaixada portuguesa em Londres. Para que a mudança fosse possível, José Sócrates e o ministro das Finanças descongelaram a título excepcional uma contratação de pessoal especializado.

Contactado pelo jornal, o porta-voz Carneiro Jacinto explicou que a contratação de Maria Monteiro já tinha sido decidida antes do anúncio da redução para metade dos conselheiros e adidos das embaixadas As medidas de contenção avançadas pelo actual governo, nomeadamente o congelamento das progressões na função pública, começam a dar frutos. Os sacrifícios pedidos aos portugueses permitem assegurar a carreira desta jovem de 28 anos que, apesar da idade, já conseguiu, por mérito próprio e com uma carreira construída a pulso, atingir um nível de rendimento mensal superior a 9.000 euros.

É desta forma que se cala a boca a muita gente que não acredita nas potencialidades do nosso país; os zangados da vida que só sabem criticar a juventude. Ponham os olhos nesta miúda.

A título de curiosidade, o salário mensal da nossa nova adida de imprensa da embaixada de Londres daria para pagar as progressões de 193 técnicos superiores de 2ª classe, de 290 Técnicos de 1ª classe ou de 290 Assistentes Administrativos. O mesmo salário daria para pagar os salários de, respectivamente, 7, 10 e 14 jovens como a Maria, das categorias acima mencionadas, que poderiam muito bem despedir-se, por força de imperativos orçamentais.
Estes jovens sem berço, que ao contrário da Maria tiveram que submeter-se a concurso e também ao contrário da Maria já estão habituados a ganhar pouco, devem habituar-se a ser competitivos. Também a título de exemplo, seriam necessários os descontos de IRS de 92 Portugueses com um salário de 500 Euros a descontarem à taxa de 20%.

A nossa Maria merece em nome do Progresso, e do grande Choque Tecnológico!


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

-" Para compreender melhor o 25 de Novembro "

Entrevista com o Gen. JAIME NEVES

A VERSÃO oficial do 25 de Novembro está correcta ou há episódios que ainda não foram contados?
Está correcta.
Não faltam episódios?
Há alguns que talvez não tenham sido devidamente contados. Lembro-me que no dia 25 de Novembro tivemos um grande problema ao querer que o general Costa Gomes assumisse o papel de chefe das Forças Armadas. Ele não queria. Houve uma reunião em Belém em que estive com o Eanes, o Rocha Vieira e outros e fomos lá falar com ele. O general Costa Gomes era um homem muito inteligente mas era muito hesitante. Depois, muito a medo, lá tomou posição. Nós não faríamos nada se ele não se pusesse à frente daquilo.
Mas o 25 de Novembro precipita-se por causa das ocupações de quartéis por parte da esquerda militar.
Claro, mas nós estávamos preparados para isso. Há um episódio a que não se dá o verdadeiro relevo. No dia 24 de Novembro chegou ao Tejo, vindo de Luanda, o batalhão de pára-quedistas comandado pelo brigadeiro Almendra. E uma delegação dos pára-quedistas foi esperar o barco à entrada do Tejo. Como eles tinham o armamento todo, quiseram convencê-los a alinhar com os da base de Tancos. Eles disseram que não e seguiram para base de Cortegaça. Se esses mil e quinhentos homens tivessem alinhado, o desfecho do 25 de Novembro poderia ter sido diferente.

Como explica que Otelo Saraiva de Carvalho tivesse desistido de intervir no dia 25 de Novembro?
Nós tivemos uma reunião na noite de 24 de Novembro no quartel-general para o tentar convencer a desistir. Ele não ficou convencido mas abandonou o terreno. E, no dia seguinte, foi preso.

Como comenta a afirmação de Pires Veloso de que só ele, Lemos Ferreira e Jaime Neves é que tiveram uma acção relevante no 25 de Novembro?
Respeito a opinião das pessoas, é a dele. Isso é uma crítica a Eanes. Eu era muito amigo do Pires Veloso e um dia disse-lhe: 'Não morro de amores pelo Eanes, mas o ódio que você tem ao homem é visceral'. Quando houve o 25 de Novembro, no relatório final, o Eanes não referiu o Pires Veloso. Julgo que é isto que o magoa.

Já reatou relações com o general Eanes?
Vamos lá a ver. Somos do mesmo curso, estivemos na Índia juntos; estivemos em Angola e Moçambique juntos e até namorámos com duas irmãs durante dois anos e nenhum de nós casou com elas. Mas em princípio de 1979 ele fez uma reunião no forte de Catalazete com 15 pessoas, dos quais militares eram 10 ou 12. Ele informou-nos de que estava a ser muito pressionado para se recandidatar a Presidente da República mas que não queria. Eu disse-lhe: “Tu é que sabes”. A reunião terminou, tendo como conclusão de que ele não se iria recandidatar. Passados 15 dias vejo o Eanes no estádio da Luz, ele que não gostava de futebol. Aí pensei: ele não gosta de futebol e está aqui? Só pode ser para se recandidatar...
Aí não teve dúvidas...
Não. E um sábado de manhã, nunca mais me esqueço, o Eanes telefona-me para casa a dizer que queria falar comigo. Eu ia para o Porto e ele disse que me punha lá de avião se eu perdesse o comboio. Cheguei ao palácio de Belém, junto à escadaria que dá para a Calçada da Ajuda. Comecei a subir e ele disse para eu esperar que vinha ter comigo. A meio daquela escadaria, às 7 horas da manhã, ele diz-me: 'Se eu concorrer e o Soares Carneiro também, em quem é que votas?'. O maior conselheiro dele era o Soares Carneiro porque era um militar com experiência política. Eu disse-lhe que se o Soares Carneiro era o melhor conselheiro, como ele dizia, era nele que votava. Sabe qual foi o
primeiro acto que o Eanes fez na altura em que tomou posse?
Não.
Demitiu o general Pedro Cardoso que era chefe de Estado-Maior do Exército e que, tal como eu, tinha apoiado Soares Carneiro.
Voltou a falar com Ramalho Eanes?
Tive uns contactos com ele muito frios. Desde 1979 para cá devemos ter falado para aí umas cinco vezes.
E nada mudou agora que Ramalho Eanes propôs a sua promoção?
Nada mudou.

Todos os seus companheiros do 25 de Novembro acabaram por ter uma projecção muito mediática. Por que ficou sempre um pouco na sombra da história?
Eu, militarmente, fiquei onde quis, fiquei a comandar o Regimento de Comandos. Nunca fui um homem político.
Mas tomou posições políticas, interveio no 16 de Março e no 25 de Abril de 1974. Quando regressou da sua última comissão em Moçambique já achava ser preciso mudar o estado das coisas?
Exactamente. Eu comandava em Moçambique o Batalhão de Comandos, que era talvez a maior unidade do exército português. Tinha sob o meu comando mais de 30 capitães. E sentia, nessa altura, a insatisfação.
Mas em Moçambique tinha conversas políticas com os seus capitães?
Sim, eles faziam umas reuniões e vinham-me contar tudo. Estava a par do que se passava. As insatisfações eram de vários tipos. Havia capitães que estavam cansados de ter tantas comissões, outros acabavam por ter problemas familiares muito complicados por estarem em África. A malta ia para lá já um bocadinho obrigada.

No 16 de Março qual foi a sua intervenção?
A15 de Março, à noite, acompanhei o major Monge e o tenente-coronel Casanova Ferreira ao Regimento de Cavalaria 7 para conseguirmos que o comandante alinhasse connosco e com o anuimento do general Costa Gomes.
Ele acompanhou-os?
Não. Manteve-se firme e não acompanhou.
E depois?
Quando regressávamos capotámos em Monsanto. Endireitámos o carro, era um mini, e o Casanova Ferreira disse que ele e o Monge seguiam para as Caldas e eu fiquei de ir lá ter quando conseguisse transporte. Mas não consegui e não fui.

E no dia 25 de Abril o que é que faz?
Arranjei um grupo de comandos, oficiais e sargentos e algumas praças, éramos para aí uns 15 a 20 militares. Fomos ter com o Otelo que nos deu como missão: prender três comandantes de unidades. Mas não fui buscá-los por uma razão muito simples:
vigiámos a casa dos três e estava tudo muito calmo. Era difícil intervir sem provocar um grande alvoroço que poderia denunciar que alguma coisa se estava a passar.
O que fez então?
Fui para o Terreiro do Paço e esperei pela coluna de Santarém. Ainda vi o buraco por onde fugiu o ministro do Exército para o edifício da Marinha. Entretanto, veio o Salgueiro Maia e aí tive o meu primeiro choque. Quando estamos no meio da placa central, chega uma série de malta da Margem Sul, com bandeiras que dizem 'Nem mais um homem para África', 'Abaixo o fascismo". E eu interroguei-me: isto foi feito com tanto secretismo e já há bandeiras?
Está a dizer que havia uma articulação com o PCP?
Tinha que ser, era o único partido organizado e nós éramos uma cambada de inocentes.
Quando vê as bandeiras e os civis o que pensou?
Que estávamos a ser enganados.
E a seguir o que fez?
Segui para a Penha de França para ocupar o quartel. Cheguei ao portão principal e saiu de lá um gajo alto com uma pistola que me diz: 'Senhor major para entrar aqui só por cima do meu cadáver'. E eu disse: 'Por cima de quê? Oh amigo, vai-te embora que eu não brinco com essas coisas'.
E ele foi?
Foi.

E depois de tomar o quartel da Penha de França?
Fiquei nessa noite no quartel e no dia seguinte recebi ordens para ir com esse pessoal e o de uma companhia da EPI de Mafra para a Academia Militar. Fiquei lá sediado e fomos uma espécie de bombeiros. Deram-me mais carros de combate para uma força dissuasora e eu passei até ao dia 4 de Julho permanentemente a resolver problemas.
Quais problemas?
Levei os presos do Limoeiro para o Linhó em chaimites, iam seis de cada vez. Quando cheguei ao Limoeiro os presos disseram que só me recebiam a mim. Entrei lá para dentro sozinho. Estavam todos no refeitório e eu perguntei o que é que eles queriam. Queriam contar a história deles. Fui buscar quatro escriturários e disse: 'Cada um conta a sua história e eu levo-as e entrego ao ministro da Justiça. Querem?'
Quiseram e estive lá até às cinco da manhã. Depois, como a GNR e a PSP tinham perdido toda a força, as pessoas em Lisboa queriam vingar-se e fechavam os polícias nas esquadras e eu tinha que lá ir libertá-los.

De quem recebia ordens?
Recebia ordens do Costa Gomes - conhecia-o bem, tinha estado com ele em
Moçambique, quando era comandante militar e eu estava nos Comandos - e recebia ordens do Spínola. E o Spínola chamou-me a 29 ou a 30 de Abril e disse-me: 'Vais ao aeroporto esperar o dr. Álvaro Cunhal com todo o pessoal, com toda a honraria; recebe-o como deve de ser e vais trazê-lo para aqui'.
Já tinha ouvido falar do Cunhal antes do 25 de Abril?
Já, mas pouco. Ele não estava cá.

E depois o que se seguiu?
Cumprimentei-o e disse-lhe que tinha ordens do general Spínola, que pedia para me acompanhar para o levar ao palácio da Cova da Moura. E quando íamos a sair aí é que eu tenho um espanto.
Porquê?
Porque olho para trás, quando estávamos a chegar à Segunda Circular e vejo os carros militares todos cheios de gente com bandeiras vermelhas e aí eu disse: 'Estou fodido'. Dei ordens pelo rádio para os meus homens terem calma e não mexerem nas armas.

Uma grande tensão?

Foi pior de outra vez. O Costa Gomes disse-me para eu ir buscar um cubano, o célebre capitão Peralta, que estava no hospital da Estrela e que os gajos da extrema-esquerda queriam tomar o quartel para o tirarem de lá. Perguntei-lhe se podia usar de todos os meios. Só ao fim de meia hora é que escreveu a meu pedido uma ordem, mas frisando que só em caso extremo podia usar as armas. Lá fui e, pela primeira vez na minha vida, assustei-me e vi-me aflito.
O que se passou?
É que quando eu dou a volta no Largo da Estrela vejo um mar de gente, e os malandros de repente atiram-se todos ao chão e não me deixam andar. Eu vou devagarinho e vi os gajos à minha frente a fazerem amor...Tive que andar a levantá-los um a um e lá consegui encostar os carros todos ao fim de duas horas. Sei lá o que eu fiz mais... Fui para a TAP 12 dias para os pôr a trabalhar, fiz uma série de coisas.

Um dia disse que “o abandono de África é o pior legado da revolução de Abril'. Se tivesse percebido antes tinha participado?
Tinha sérias dúvidas. Não sou defensor da descolonização possível de Mário Soares. Pensei sempre que nós devíamos controlar daqui. Era contra o Portugal uno inalienável e indivisível. A Guiné estava a perder-se. Eu dizia para se deixar a Guiné e agarrar Angola e o pessoal que estava na Guiné ia para Moçambique, que também estava mal.
A sua posição era de que o processo de independência devia ser lento e controlado por Portugal?
Sim, controlado por nós, a nossa tropa controlava.
E na altura havia condições políticas para isso, com enormes manifestações a gritarem 'Nem mais um soldado para as colónias'?
Vamos lá a ver... Se cá tivessem tomado medidas, tínhamos agarrado o processo. Não fizemos nada, pelo contrário. Houve toda uma técnica que ninguém esperava que se notasse.
Qual?
Quando colocaram os cravos nas armas não foi por acaso.
Porque foi então?
Para as neutralizar. Eu nunca deixei que o fizessem para poder empregar todos os meios.
Mas havia medo que, caso os militares utilizassem a força, os civis se revoltassem...
Há maneiras de o fazer. Lembro-me que já estava nos Comandos e os deficientes foram sequestrar o Governo manifestando-se em cadeiras de rodas. Esqueceram-se que havia quem fosse mais esperto do que eles. Eu fui num jipe civil e vi a manifestação. Fui ter com os meus condutores das duas companhias de Comandos e disse: 'Vamos descer em segunda e quero o máximo de rateres'. Eles não eram nada deficientes e, quando viram as chaimites, levantaram-se e desataram a correr. Largaram tudo.
Largaram as cadeiras de rodas?
Largaram tudo. Eu carreguei duas camionetas com as cadeiras de rodas e as próteses para a Amadora. Fiz um aviso na rádio a todos que as quisessem. Em 15 minutos levaram tudo.

É sabido que foi crítico do caminho que o processo tomou. Para si quem foram os responsáveis?
O general Spínola foi o grande responsável, quando resignou em Setembro e foi para lá o Costa Gomes...A desilusão foi muito grande. Eu, volta e meia, ia a Belém; ele chamava-me. E quando se falava no Partido Comunista ele dizia para se falar baixo. Quando começaram os problemas com Otelo eu disse: 'Oh meu general prenda-se o Otelo'. E ele logo: 'Fale baixo'. Ele tinha medo. Quando foi a chamada 'manifestação silenciosa' ele foi-se embora porque teve medo.
Mas no 11 de Março Spínola não tentou aliciá-lo?
Tentou. Ele no 11 de Março telefonou-me ao meio-dia, e perguntou se eu já tinha a minha missão. Respondi-lhe que não tinha missão nenhuma.

Naquela altura o que mais o marcou?
Foram as grandes manifestações que aconteceram em Lisboa porque nós não estávamos preparados para isso.
Mas receou o quê?
Não sabia como resolver aqueles problemas. Por exemplo, o MRPP punha os 'borrachos' à frente
e elas metiam-se com os soldados. 'Oh filho e tal...'. Tentavam seduzi-los e a malta fraquejava. Foi a primeira vez que a tropa enfrentou manifestações de civis.

Nessa altura, em que já tem reservas sobre o curso das coisas como eram as relações com os seus companheiros de armas?
Com o Costa Gomes fazia faísca, porque ele era um homem diabólico. Veja só o percurso dele. É condecorado em Angola com a mais alta condecoração da PIDE em 1973, o único militar que eu conheço; e um ano depois, em 1974, virou à esquerda. Tive reuniões com os militares do COPCON e o Otelo tinha este país na mão. Mas era um homem sem coerência e houve uma altura que se convenceu que era bonito e sedutor. O COPCON chegava a ter à entrada uma bicha de mais de 1.000 pessoas. Um dia perguntei a uma senhora onde ia. E ela disse: 'O general Otelo prometeu-me um apartamento'. Eu chegava lá dentro e dizia: 'Oh Otelo, como é que tu fazes isso? Para onde é que queres levar este país?'.
E como foi o seu relacionamento com Vasco Gonçalves?
Falei só para aí duas vezes com ele. Encontrei-o em Belém no dia 20 e tal de Novembro de 1975 porque o Costa Gomes tinha-me mandado chamar. Encontrei-o no corredor e ele começou a gritar pelos guarda-costas. Eu ri-me.

Mas havia uma grande desconfiança em relação a si por ser mais conotado com a direita do que com a esquerda.
Costumo dizer: nasci em 1936 e formei-me em 1956. Nós militares, infelizmente, éramos politicamente muito mal preparados, mas éramos todos muito parecidos. Depois surgiram uns que diziam que eram de esquerda. Mas olhe, esses gajos que se rotularam de esquerda eram uma merda como militares.
Todos?
Bem, todos não.

Chegou a ser saneado dos Comandos.
Foi no dia 31 de Julho de 1975. Nesse dia tudo estava muito agitado porque tinha chegado a 6.a Esquadra americana. Eu cheguei à messe dos sargentos e perguntei o que se passava: 'Meu major é que vem a 6.a Esquadra para conquistar isto', disseram-me. E eu disse: 'Vocês são parvos, não vem nada'. Às 10 horas da noite fui-me deitar, eu morava na Reboleira, mas pressentia que ia acontecer alguma coisa. Às quatro da manhã toca o telefone e alguém diz: 'É do PSD da Amadora. O Partido Comunista tomou o seu quartel e eu estou-lhe a oferecer duzentos homens mas precisamos de armas'. Perguntei quem falava e ele disse que não podia dizer e desligou. Logo a seguir liga-me o meu 2.° comandante, major Lobato Faria, que diz que estava preso, mais um grupo de oficiais e sargentos. E diz que os ocupantes lhe tinham pedido para me informar de que já não era o comandante. Eu tinha um Ford amarelo que me tinham emprestado. Cheguei ao pé do quartel, parei o carro e fui a pé e fiquei à Porta de Armas. Estavam duas chaimites a trancarem a entrada com mecânicos lá dentro. Dizem-me que eu já não sou o comandante e que estavam à espera do Otelo que nessa noite tinha chegado de Cuba, e que também vinha o Vasco Lourenço que, entretanto, chegou mas não o deixaram entrar. E eu a assistir àquilo tudo. Chega o Otelo, está lá um minuto e dezoito segundos a falar com quatro militares. Eu disse-lhe que queria que fossem libertados todos os que estavam presos. Fui com os meus militares para o Estado-Maior do Exército reconstituir o que se tinha passado. O Otelo julgava que lhe iam entregar o quartel de bandeja, mas esqueceu-se que o Partido Comunista já tinha tomado conta do quartel. E então ele pensou que entre o PCP e o Jaime Neves preferia-me a mim, e foi-me buscar.
Esteve saneado quanto tempo?
Três dias. Fui a um plenário a que o Otelo foi, no Regimento de Comandos, e os furriéis que tinham participado na ocupação foram ao palco e disseram que tinham estado com o Álvaro Cunhal que lhes prometeu e às famílias que lhes pagava transportes, que lhes pagava tudo, se algo corresse mal. Isso ficou no auto.

Colocou alguma vez a hipótese de sair do país antes do 25 de Novembro?
Nunca. A única coisa que defendi, como militar, para o 25 de Novembro, foi a hipótese de sair de Lisboa, ir para Rio Maior porque os Comandos tinham as rádios e os jornais diariamente contra nós e militarmente estávamos praticamente isolados. Éramos bombardeados de manhã à noite. Civis e militares chegaram a ir ao quartel ameaçar-nos. À segunda vez tracei uma linha na estrada e disse que abria fogo sobre o primeiro que a passasse. Nunca mais ninguém passou. A maior parte da malta com um berro desaparecia.

Quando foi contactado para a hipótese de fazerem um golpe de estado?
Durante o Verão 1975 havia reuniões com militares. Estavam o Eanes, Rocha Vieira, Tomé Pinto, Garcia dos Santos, Gomes Mota, Firmino Miguel e mais alguns civis, entre os quais o Henrique Granadeiro que foi chefe da casa civil do Eanes.
E reuniam-se onde?
Em qualquer sítio. A primeira vez foi em casa do Melo Antunes, outra por cima do restaurante Galeto, em Lisboa.
Na altura tinha informação sobre estar em preparação um golpe de direita?
Não me lembro de ouvir falar da possibilidade de um golpe da direita porque nós controlávamos tudo. Além disso, os únicos homens de direita de que tínhamos conhecimento que poderiam ser operacionais eram o Alpoim Galvão e mais uns que, no Norte, estavam com o cónego Melo. Nós conhecíamo-nos todos, éramos camaradas, éramos militares.
Todos sabiam o que todos andavam a fazer?
Sim. Nós sabíamos que aquela direita nunca avançaria contra nós. Não era uma preocupação.

Mas tudo aconteceu no dia 25 de Novembro porque houve a ocupação pela esquerda militar das bases de Tancos...
Exactamente. Estávamos já preparados. Mas foi uma resposta. Eu estava preparado com o regimento há uma semana. Tinha as viaturas carregadas com munições e com comida.

O que se passou quando foi tomar a Polícia Militar? Houve aí um problema...
Houve. Quando vou a passar na Calçada da Ajuda, vem um tenente-coronel a correr de dentro do palácio de Belém que me grita: 'Oh pá, o Costa Gomes deu ordens e a Polícia Militar vai render-se'. E eu disse-lhe: 'Oh pá, eu não posso fazer nada porque o meu comando deu ordens para avançar e eu estou atrasado 10 segundos'.
Quem era na altura o seu comando?
Era o Eanes e os outros oficiais que já referi.
E depois o que aconteceu?
Eu sigo para cima e quando vou a passar à frente de Cavalaria 7, estava lá a recruta, fomos atacados. Apeámo-nos rapidamente. Dois dos meus homens estavam mortos e o meu pessoal queria matar duzentos. Tive que andar aos pontapés ao meu pessoal para não dispararem. Eles só choravam. Olhe que durante anos, quando fazíamos manobras militares, em qualquer terra onde chegávamos as pessoas diziam-me: “Você é que o culpado disto porque não matou os gajos todos da Polícia Militar”.
E eu respondia: 'Olhe lá, e se estivesse o seu filho na Polícia Militar, não estaria a falar comigo agora aqui'.

A partir do 25 de Novembro deixa de ter intervenção?
Sim, só me dedicava à vida militar. Fico nos Comandos até passar à reserva em 1981. Tinha estado na Índia na primeira comissão. Estive em Moçambique pela primeira vez em 1959. Em 1962 fui para Angola até 1964; depois vou logo para os Comandos. Regresso a Angola em 1965 e em 1966 mudam-me para Moçambique, fiquei lá mais um ano e meio. Em 1968 regresso e em 1970 volto para Moçambique com uma companhia de Comandos, depois de ter estado cerca de cinco meses em Angola. Sou promovido a major em 1972 e fico em Moçambique até Dezembro de 1973.
África marcou-o muito?
Sim. Em 1973 cheguei a dizer ao meu pai que ficava em África. Eu gostava daquilo, sentia-me realizado.

Como responde à polémica que surgiu com a sua recente promoção a general?
Não respondo, mas há uma coisa que tem de ser dita: esta raiva que o Vasco Lourenço despeja em cima de mim, sempre que pode, tem duas origens. Primeiro, ele tem uma verborreia crónica; ele tem de pronunciar-se de vez em quando. Segundo, há uma coisa que ele não esquece: em 1975 eu disse no regimento que a ele nem para cabo o queria e pedi desculpa aos cabos. Ele não tinha categoria nenhuma...

Nasceu em Vila Real e seguiu a carreira militar porque era mais económico?
Sim, mas quando acabei o sétimo ano candidatei-me à Academia Militar e, como alternativa, também a Medicina na faculdade do Porto. Fui chamado primeiro para a Academia e lá fui.
E alguma vez pensou que a sua carreira militar ia levar este rumo?
Não, nunca me passou pela cabeça.
E alguma vez parou para pensar na volta que sua vida levou?
Nunca me arrependi, pelo contrário.
Por que foi trabalhar com Jorge de Brito quando saiu dos Comandos?
Conheci-o quando ele esteve preso e tentei dar-lhe uma ajuda. Depois passei a dar-me com ele e trabalhámos juntos durante 12 anos.
A fazer o quê?
Ao Jorge de Brito arrolaram-lhe todos os bens, que eram muitos, e eu fui director daquele património. Aquilo estava tudo ocupado. Eu pus aquilo na ordem, despedi uns e bati noutros...
A seguir criou uma empresa de segurança, a 2045...
Sim, éramos seis sócios. Continua a trabalhar e tem três mil homens.

Julgo que agora já estará mais regrado quanto ao whisky e ao prazer pela comida?
Eu gostava de beber uns copos, mas numa noite bebia apenas três whiskies. Era só gelo.
Era um refresco ?...
Ora muito bem...isso mesmo. Nunca me embebedava e nunca permiti que me
oferecessem um whisky.
Gostava da noite?
Gostava. A noite é um mundo excepcional, fazem-se amigos, inimigos, faz-se tudo.
Na vida fez alguma coisa de que se arrependeu?
(Longo silêncio) Não tenho veleidades de dizer que fiz tudo bem, mas não me ocorre nada de especial.

Jerónimo Pimentel

sábado, 30 de outubro de 2010

-" Imaginem "

Por Mário Crespo

Imaginem que todos os gestores públicos das 77 empresas do Estado decidiam voluntariamente baixar os seus vencimentos e prémios em dez por cento. Imaginem que decidiam fazer isso independentemente dos resultados. Se os resultados fossem bons as reduções contribuíam para a produtividade. Se fossem maus ajudavam em muito na recuperação.
Imaginem que os gestores públicos optavam por carros dez por cento mais baratos e que reduziam as suas dotações de combustível em dez por cento.

Imaginem que as suas despesas de representação diminuíam dez por cento também. Que retiravam dez por cento ao que debitam regularmente nos cartões de crédito das empresas.

Imaginem ainda que os carros pagos pelo Estado para funções do Estado tinham ESTADO escrito na porta. Imaginem que só eram usados em funções do Estado.

Imaginem que dispensavam dez por cento dos assessores e consultores e passavam a utilizar a prata da casa para o serviço público.

Imaginem que gastavam dez por cento menos em pacotes de rescisão para quem trabalha e não se quer reformar.

Imaginem que os gestores públicos do passado, que são os pensionistas milionários do presente, se inspiravam nisto e aceitavam uma redução de dez por cento nas suas pensões. Em todas as suas pensões. Eles acumulam várias. Não era nada de muito dramático. Ainda ficavam, todos, muito acima dos mil contos por mês. Imaginem que o faziam, por ética ou por vergonha. Imaginem que o faziam por consciência.

Imaginem o efeito que isto teria no défice das contas públicas.

Imaginem os postos de trabalho que se mantinham e os que se criavam.

Imaginem os lugares a aumentar nas faculdades, nas escolas, nas creches e nos lares.

Imaginem este dinheiro a ser usado em tribunais para reduzir dez por cento o tempo de espera por uma sentença. Ou no posto de saúde para esperarmos menos dez por cento do tempo por uma consulta ou por uma operação às cataratas.
maginem remédios dez por cento mais baratos. Imaginem dentistas incluídos no serviço nacional de saúde.

Imaginem a segurança que os municípios podiam comprar com esses dinheiros.

Imaginem uma Polícia dez por cento mais bem paga, dez por cento mais bem equipada e mais motivada.

Imaginem as pensões que se podiam actualizar. Imaginem todo esse dinheiro bem gerido.

Imaginem IRC, IRS e IVA a descerem dez por cento também e a economia a soltar-se à velocidade de mais dez por cento em fábricas, lojas, ateliers, teatros, cinemas, estúdios, cafés, restaurantes e jardins.

Imaginem que o inédito acto de gestão de Fernando Pinto, da TAP, de baixar dez por cento as remunerações do seu Conselho de Administração nesta altura de crise na TAP, no país e no Mundo é seguido pelas outras setenta e sete empresas públicas em Portugal. Imaginem que a histórica decisão de Fernando Pinto de reduzir em dez por cento os prémios de gestão, independentemente dos resultados serem serem bons ou maus, é seguida pelas outras empresas.

Imaginem que é seguida por aquelas que distribuem prémios quando dão prejuízo.
Imaginem que país podíamos ser se o fizéssemos.
Imaginem que país seremos se não o fizermos."


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

-" São todos iguais "

Marques MendesNovo Pensionista Prematuro!

"Aos 50 anos de idade e com 20 anos de descontos como Deputado, Marques Mendes acaba de requerer a Pensão a que tem direito, no valor mensal vitalício de 2.905 euros mensais. Contudo, um trabalhador normal tem de trabalhar até aos 65 anos e ter uma carreira contributiva completa durante 40 anos para obter uma reforma de 80% da remuneração média da sua carreira contributiva.

Um povo resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas..."

E porquê ? ! ... Porque desconhece aquilo de que os portugueses sempre foram capazes e se resignam a serem manipulados por um bando de incapazes sem escrupulos. Isto é o que acontece quando um povo desconhece a sua própria história!
Não é por acaso que as "forças progressistas e democráticas" do 25 de Abril tentaram apagar ou deturpar a história. Um povo conhecedor e orgulhoso da sua história não se deixa dominar por um bando de ignorantes oportunistas.

Sigam o exemplo dos valentes do 1º de Dezembro e defenestrem todos os parasitas! ...


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

-" Diamantes e Robalos "

Momentos de glória da política portuguesa !




João Soares, Teresa Ricoh, Jonas Savimbi, António Maria Pereira e Armando Vara, durante o VII Congresso da UNITA, na Jamba, Angola, em 1991.

Deixem-me fazer um exercício de raciocínio :

- Em 1991, a UNITA dominava a zona da Lunda e as jazidas de diamantes.
- O congresso da UNITA realizou-se seis meses antes das eleições em Portugal.
- As campanhas eleitorais ficam muito caras.
- Qual é o negócio mais rentável na África do Sul ?
- Por falar em África do Sul, recordo-me que João Soares teve um acidente num avião ligeiro quando ia de Angola para a África do Sul.
- Que raio iria ele fazer à África do Sul ?...
- Será que ia passar férias ?...
- Teve muita sorte em não ter morrido ! ... Se morresse seria mais um herói do PS.
- Será que isto tem alguma coisa a ver com os robalos ?...


Não ! ... Tudo isto só pode ter sido coincidência.


sábado, 2 de outubro de 2010

-" Porque não conquistamos Luanda ! "

Estamos em Agosto de 1975. Um pequeno grupo de portugueses desembarca em Angola para ajudar a impedir a sua entrega ao colonialismo soviético.

Eram poucos. Iriam porém, mostrar em valentia sem par e altruísmo sem preço, a vontade de todo o povo real que, perplexo e traumatizado, estava incapaz de reagir à mais aviltante farsa de toda a sua História. Em nome de um povo imaginário e de liberdades paranóicas — aliás tolhidas a cada passo em pesados preços de sangue e de fome — todos assistimos à maior mentira do século: a "independência" de Angola.

Qual Angola?

A que víramos próspera, virada ao futuro, na preocupação do bem-estar das suas gentes, na riqueza da sua história, no valor da sua cultura, na grandeza e na dimensão do seu viver? Ou a que encontramos destruída, com os povos famintos a fugir de um lado a outro, para morrerem mais tarde? A que encontrámos em gritos de dor e pedindo a nossa ajuda, uma palavra de esperança, uma afirmação de que tudo era pesadelo e de que voltariam à tranquilidade do seu viver?

Qual independência?

A que trouxe a Angola a ocupação colonial por um exército estrangeiro, em flagrante conquista militar, sem quaisquer laços que liguem o povo aos ocupantes, para além da anuência de uma minoria dirigente e totalitária e porque um governo, em Lisboa — provisório mas definitivamente irresponsável — o consentiu também? O que pensa realmente deste facto trágico o povo português e desgraçadamente o que pensará o povo de Angola?

Foi um grupo pequeno que se bateu contra isto tudo. Merecem por isso o respeito e a consideração de todos os portugueses. Por se terem batido e porque se bateram bem.

Alguns pagaram cara a sua dádiva. E quando no pequeno cemitério do Ambriz desceram à terra, com toda a população a assistir em religioso silêncio, com as honras devidas e cobertos com a Bandeira Portuguesa, repetia-se apenas o que ao longo dos séculos acontecera. Mais uma vez aquela terra acolhia generoso sangue português. Ali estivemos também, meditando e sentindo mais vontade para continuar.

A história deste livro, na simplicidade do relato de uma boa parte dos combates que tiveram de travar-se, dá bem conta do que foi essa luta. Não podemos, porém, deixar de recordar também com sentido respeito os que pelo sul de Angola e em combates de gigantes, libertaram sucessivamente Pereira de Eça, Sá da Bandeira, Moçâmedes e Lobito. Ali tombaram outros tantos, que recordamos com saudade e a maior veneração.

O relatar de uma guerra, na verdade dos factos e com humildade, é privilégio dos que sabem bater-se. É este o caso, na óptica de quem o soube fazer e fazer bem. A outra história, a dos bastidores da intriga política, ficará para ser contada oportunamente. Ela terá de ser contada um dia e sê-lo-á...

Fomos derrotados naquela batalha, mas vencidos ainda não.

*

Em Julho de 1975 os soldados cubanos começaram a desembarcar em Angola. Faltavam cinco meses para a independência estabelecida nos Acordos de Alvor, e o exército cubano, apoiado por material de guerra russo pesado e sofisticado (tanques e mísseis), começou a invadir Angola.

O povo português desconhecia em absoluto este facto, porque a Informação (imprensa, rádio e TV) "mais livre do mundo" simplesmente o ocultava. Aliás, em Julho de 75 tinha também começado no norte do país o célebre "Verão quente". O povo andava atarefado em travar a escalada comunista e tinha perfeita consciência de que se o conseguisse a tempo, Angola nunca cairia sob o domínio soviético. Mas o povo do norte foi traído pelas mesmas pessoas que traíram os angolanos. Não foi por acaso que o "25 de Novembro" só aconteceu depois de consumado o "11 de Novembro", data da entrega oficial de Angola à Rússia.

A primeira importância deste livro, escrito por três Comandos Especiais que tive o orgulho de comandar, é a de provar, com a simplicidade de uma prova visível e concreta, que o exército cu-bano invadiu Angola antes da independência. Eu próprio comandei os combates que os Comandos Especiais travaram contra os cubanos em

Angola, durante os meses de Agosto, Setembro, Outubro e Novembro de 1975... Só na parte norte de Luanda, para "defender" a cidade, estacionavam seis batalhões cubanos completamente equipados, armados e municiados.

Feita a prova desta terrível verdade, surge a segunda importância deste livro: — Quem autorizou ou quem facilitou a entrada dos cubanos? Quem constituía, nessa época, o Poder em Portugal? Presidente da República, Governo e Conselho da Revolução. Muitos membros desses órgãos do Poder continuam hoje a ser governantes. Grande parte deles são os mesmos. Como é isto possível? Sobre os ombros desses homens pesa a responsabilidade da morte de milhares e milhares de homens, de mulheres e de crianças. Pesa ainda a gravíssima responsabilidade de terem impedido a libertação da nação angolana. Que povo pode ser livre, quando ocupado por um exército de 30 000 soldados estrangeiros?

Quem autorizou a entrada do exército cubano em Angola, quando o poder soberano ainda pertencia (e pertenceria durante vários meses) ao governo português?

Enquanto esta pergunta não for respondida, que importância podem ter os escândalos em que se envolvem altas figuras do regime e o que podem significar os delitos, os compromissos ou os compadrios que os levaram ao Poder? Mas enquanto houver portugueses da raça destes Comandos Especiais que foram lutar contra os cubanos, aquela pergunta há-de ter uma resposta. Não se saberá quando, mas terá de ser dada às centenas de milhar de mortos, aos que perderam a dimensão de viver e aos que vagueiam apátridas e atónitos...

*

Visto à luz da História, os Comandos Especiais eram em número ridiculamente pequeno. Apenas um punhado de homens: pouco mais de uma centena e meia.

Vieram de todos os cantos do mundo. Alguns tinham já sido Comandos, ao tempo da sua vida de militares em Angola ou em Moçambique.

Vieram espontaneamente. Nada lhes foi oferecido, e eles nenhumas condições impuseram. Claramente lhes foi dito que os Comandos Especiais iriam apenas ser a resposta altiva dum punhado de portugueses à cobardia e à traição dos que entregavam a Pátria às potências estrangeiras.

Vieram por sua própria e livre iniciativa, na louca esperança de ainda salvar o nosso povo duma desonra afrontosa e de uma perda irreparável.

Logo no primeiro recrutamento surgiram aqueles que iriam constituir a mais extraordinária, a mais inconcebível, a mais desesperada força militar que alguma vez se propôs fazer frente ao império comunista: 156 homens dispondo de reduzidíssimo armamento, dependendo quase que exclusivamente de si próprios, pois o apoio logís-tico era praticamente inexistente. Estavam dispostos a enfrentar o MPLA comunista, mas não sabiam ainda que uma das mais poderosas máquinas político-militares do mundo iria lançar abertamente todo o seu peso na luta a favor do MPLA. Igualmente ignoravam que as autoridades portuguesas iriam dar cobertura aos comunistas.

Mas mesmo que o soubessem, na altura em que se dispuseram a lutar para defender Angola da estratégia soviética, isso não os faria recuar.

Na realidade a acção desse punhado de homens começou no Verão de 75. O "Verão Quente" de Angola.

Quando se verificaram os primeiros incidentes graves, em Maio/Junho de 75, em Luanda e nas áreas que impropriamente designaram como "zonas de influência", esses incidentes deram-se apenas entre os "movimentos de libertação", MPLA incluído.

A cruzada parecia fácil. Se os Comandos Especiais tivessem de enfrentar apenas o MPLA, as coisas teriam seguido um outro rumo: nunca os comunistas teriam tido a possibilidade de tomar conta de Angola.

O Alto-Comissário que representava nessa altura o Governo Português em Angola teve uma acção claramente definida: de acordo com a letra e o espírito dos tratados, não concedeu nem concederia qualquer privilégio especial a nenhum dos três movimentos. Fixada a data da independência de Angola para 11 de Novembro, seriam até lá tratados em plena igualdade as três forças que entre si disputavam a supremacia em Angola. Mas essa correcta e imparcial acção contrariava os secretos desígnios dos chefes comunistas. O Alto-Comissário juntamente com o Comandante Militar, foram chamados de urgência a Lisboa. Em contra-partida, Rosa Coutinho foi para Luanda. Por curiosa coincidência, precisamente na altura em que eu próprio cheguei também a Angola. Estávamos em Agosto: exactamente no dia 5, desse ano de 1975.

A situação ali já não constituía segredo para ninguém: desde Junho que cubanos e russos mantinham, sem quaisquer preocupações de segredo, o seu Quartel-General em Luanda, na casa que fora do Administrador da Petrangol. Aí funcionava abertamente esse Quartel-General, com todas as secções e com todo o pessoal. Estávamos ainda en- 16 tão sob o controle do governo português, esse mesmo governo que num tratado de cariz internacional acordara não dar nem permitir que fosse dada qualquer espécie de tratamento preferencial a nenhum dos três movimentos competidores.

No entanto os soldados cubanos desembarcavam em vagas cada vez maiores em Luanda, nesse Verão de 75. Todo o material de guerra que consigo traziam, ali desembarcou à vista de toda a gente.

Quando os desembarques começaram a ser feitos em massa, em meados de Agosto, passaram a ter lugar em Novo Redondo. E era às claras que diariamente rolavam as colunas militares de soldados e material cubano e russo, rumo a Luanda. Quanto ao MPLA, o movimento que servia de cobertura a essa clara invasão comunista, estava completamente subordinado ao Quartel-General cubano de Angola.

Quem poderia ignorar estes factos? Na realidade, ninguém. Nem em Angola nem mesmo nos países vizinhos. E muito menos o governo português, ou pelo menos o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares.

Foi na própria Emissora oficial de Angola — ainda sob a tutela de Portugal e das autoridades portuguesas — foi através da própria Emissora oficial que se fizeram constantes e insistentes apelos para que voluntários se apresentassem no cais para trabalhar na descarga desse material cubano e russo. E muitos foram os trabalhadores que acabaram por ser apanhados à força — brancos e negros — e obrigados a ir para o porto trabalhar forçadamente no desembarque desse material.

*

O facto dos Comandos Especiais terem lutado contra o MPLA — e contra os cubanos e russos que os apoiavam — ao lado de Holden Roberto, poderá levar a pensar que esse punhado de homens fazia parte da FNLA.

Não é verdade.

A FNLA serviu de ponto de apoio para esses homens, cujo único objectivo não era nem o da conquista de riqueza ou fortuna, nem sequer o de passageira glória. Era simplesmente o desejo de manter Angola como nação livre e sem interferên-cias estrangeiras no caminho do seu progresso.

Os Comandos Especiais e eu próprio demos o nosso apoio à FNLA, por ser essa a via mais rápida para tentarmos deter a avalanche comunista que ameaçava ocupar Angola.

Foi esse o teor do acordo inicial com Holden Roberto a quem clara e iniludivelmente afirmei

18que nunca seriamos enquadrados nas fileiras da FNLA — com o que ele plenamente concordou.

De resto — e importa que se diga — Holden Roberto mal conhecia a realidade de Angola.

Para todos nós, para os que ali tínhamos nascido ou os que dali tinham feito a sua terra-mãe, era quase chocante ver o espanto que Holden demonstrava perante o progresso duma terra que ele tinha esperado encontrar primitiva e escravizada, árida e abandonada como a propaganda estrangeira proclamava. Como nota curiosa, posso revelar que perante uma barragem (as Molubas) já colocada fora de uso por obsoleta e apta apenas a servir em curtos períodos de emergência de apoio à barragem que servia Luanda, vimos Holden abrir os olhos de espanto perante tão "extraordinária realização"...

Noutra ocasião, na Fazenda "Tentativa", Holden viu uma fábrica de açúcar também já ultrapassada por não ter capacidade de laboração para a matéria prima que ali se produzia e que por tal motivo estava para ser desmanchada. Era uma fábrica que eu conhecia desde menino. Pois Holden Roberto não escondeu o seu espanto perante a sua "grandiosidade"...

Talvez por tudo isso, e também porque ele podia verificar que muitos de nós conhecíamos Angola desde Cabinda ao Cunene e que todos amávamos aquela terra que queríamos que continuasse a ser também nossa, talvez por isso ele nos respeitava e nos dava todo o apoio que podia.

No entanto todo o esforço desesperado desses homens que quiseram defender Angola do inimigo soviético se perdeu.

Ingloriamente, diga-se. Por vil traição.

Tanto os angolanos como os portugueses acreditaram que os representantes do governo português honrariam os seus compromissos de imparcialidade tal como haviam sido assumidos em Alvor. Não o fizeram. É já um facto historicamente comprovado que o governo português apoiou, muito antes da data da independência, a invasão dos cubanos, checos, húngaros e russos em Angola, tal como aprovou e consentiu no estabelecimento de quartéis e na distribuição de armamento, desde o mais simples ao mais sofisticado, desde as armas ligeiras aos mísseis russos, os célebres "órgãos de Staline"...

Quem permitiu, quem sancionou, quem colaborou nessa monstruosa traição que veio a culminar na entrega de Angola e Moçambique ao colonialismo soviético?

Muita gente me tem perguntado por que não entrámos em Luanda, quando a imprensa inter-nacional chegou a noticiar que estávamos à vista da cidade do dia 10 de Novembro, precisamente no morro fronteiro ao Cacuaco. Este livro será uma resposta suficiente, embora muitos aspectos não possam ainda ser revelados.

Esses heróis que se chamaram Comandos Especiais fizeram tudo quanto puderam. Lutando com desespero contra o tempo, conseguiram de facto chegar à vista de Luanda antes da data da independência, levando de roldão à sua frente as sucessivas vagas de cubanos que se interpunham entre eles e a capital. Se a tivessem conseguido atingir antes do 11 de Novembro, tê-la-iam tomado, e não seriam as guarnições cubanas, inadaptadas para a guerrilha urbana, numa cidade que desconheciam e temiam, que o poderiam ter impedido.

Mas entraves de toda a ordem condicionaram a ofensiva sobre Luanda, desde o não consentimento de manobras de diversão ou alterações de frente, até ao atrasar sistemático do assalto à cidade na sequência da primeira arrancada que em 48 horas nos levou do Ambriz ao Caxito... para nos quedarmos mais de vinte dias sem gasolina.

21As pressões que se exerceram sobre Holden Roberto — constantemente mal esclarecido e enganado — no sentido de fazer coincidir o início do assalto com a véspera do dia marcado para a independência, funcionaram deliberadamente para que não entrássemos em Luanda. A artilharia abandonou as posições sem qualquer aviso e exactamente quanto mais dela carecíamos para o assalto ao Morro de Quifandongo o qual, uma vez tomado, abriria o caminho para a cidade em terreno plano e sem obstáculos.

Por tudo isto não ocupamos Luanda. Foi-nos retirado o apoio de fogo pesado dos dois obuses de 140, abandonados mais tarde em Ambrizete e transformados em massas de ferro inútil porque as suas guarnições — evacuadas de helicóptero — levaram as culatras...

Ali ficamos sob intenso fogo do inimigo. O barulho da onda de mísseis parecia uma terrível e contínua trovoada. Os Comandos Especiais ficaram colados ao terreno e impedidos de dar resposta.

Ali ficou só um punhado de Comandos Especiais no dia 10 de Novembro, véspera do dia fixado para a independência. Tudo havia retirado. Do nosso posto de observação sobranceiro à cidade que não havíamos podido alcançar, vi sair do porto

22de Luanda a fragata que levava as autoridades portuguesas.

Eram quatro horas e meia da tarde do dia 10 de Novembro de 1975.

Os Comandos Especiais olharam o silencioso afastamento daquela fragata que levava no convés apinhado de gente os últimos restos de uma presença de cinco séculos. As lágrimas de raiva e de impotência rolaram pelas faces dos Comandos que o sol de Angola curtira. A fragata lançou ferro no limite das águas costeiras e ali ficou parada até à meia-noite. Num arremedo de macabra farsa, à meia-noite em ponto, esse navio da Armada Portuguesa iluminou em arco e salvou a terra...

Depois, como que num silêncio de vergonha, fez-se ao largo.

Gilberto Santos e Castro