Artigo publicado num jornal espanhol por Sebastian Vilar Rodriguez.
Desci uma rua em Barcelona, e descobri repentinamente uma verdade terrível. – A Europa morreu em Auschwitz. Matámos seis milhões de Judeus e substituímo-los por 20 milhões de muçulmanos. Em Auschwitz queimámos uma cultura, pensamento, criatividade e talento. Destruímos o povo escolhido, verdadeiramente escolhido, porque era um povo grande e maravilhoso que mudara o mundo. A contribuição deste povo sente-se em todas as áreas da vida: ciência, arte, comércio internacional e, acima de tudo, como a consciência do mundo. Este é o povo que queimámos.
E debaixo de uma pretensa tolerância, e porque queríamos provar a nós mesmos que estávamos curados da doença do racismo, abrimos as nossas portas a 20 milhões de muçulmanos que nos trouxeram estupidez e ignorância, extremismo religioso e falta de tolerância, crime e pobreza, devido ao pouco desejo de trabalhar e de sustentar as suas famílias com orgulho.
Eles fizeram explodir os nossos comboios, transformaram as nossas lindas cidades espanholas, num terceiro mundo, afogando-as em sujeira e crime. Fechados nos seus apartamentos eles recebem, gratuitamente, do governo, eles planeiam o assassinato e a destruição dos seus ingénuos hospedeiros.
E assim, na nossa miséria, trocámos a cultura por ódio fanático, a habilidade criativa por habilidade destrutiva, a inteligência por subdesenvolvimento e superstição. Trocámos a procura de paz dos judeus da Europa e o seu talento, para um futuro melhor para os seus filhos, a sua determinação, o seu apego à vida porque a vida é santa, por aqueles que prosseguem na morte, um povo consumido pelo desejo de morte para eles e para os outros, para os nossos filhos e para os deles.
Que terrível erro cometido pela miserável Europa.
O total da população islâmica (ou muçulmana) é de, aproximadamente, 1 200 000 000, isto é um bilião e duzentos milhões ou seja 20% da população mundial. Prémios Nobel: 7
O total da população de Judeus é, aproximadamente, 14 000 000, isto é catorze milhões ou seja cerca de 0,02% da população mundial. Prémios Nobel: 128
Os judeus não estão a promover lavagens cerebrais a crianças em campos de treino militar, ensinando-os a fazerem-se explodir e causar um máximo de mortes a judeus e a outros não muçulmanos. Os judeus não “tomam” aviões, nem matam atletas nos Jogos Olímpicos, nem se fazem explodir em restaurantes alemães.Não há um único judeu que tenha destruído uma igreja. Não há um único judeu que proteste matando pessoas. Os judeus não traficam escravos, não têm líderes a clamar pela Jihad Islâmica e morte a todos os infiéis.
Talvez os muçulmanos do mundo devessem considerar investir mais numa educação modelo e menos em queixarem-se dos judeus por todos os seus problemas. Os muçulmanos deviam perguntar o que poderiam fazer pela humanidade antes de pedir que a humanidade os respeite.
Independentemente dos seus sentimentos sobre a crise entre Israel e os seus vizinhos palestinianos e árabes, mesmo que creiamos que há mais culpas na parte de Israel, as duas frases que se seguem realmente dizem tudo:
“Se os árabes depusessem hoje as suas armas não haveria mais violência. Se os judeus depusessem hoje as suas armas não haveria mais Israel” (Benjamin Netanyahu).
Por uma questão histórica, quando o Comandante Supremo das Forças Aliadas, General Dwight Eisenhower, encontrou todas as vítimas mortas nos campos de concentração nazi, mandou que as pessoas ao visitarem esses campos de morte, tirassem todas as fotografias possíveis, e para os alemães das aldeias próximas serem levados através dos campos e que enterrassem os mortos.
Ele fez isto porque disse de viva voz o seguinte:“Gravem isto tudo hoje. Obtenham os filmes, arranjem as testemunhas, porque poderá haver algum malandro lá em baixo, na estrada da história, que se levante e diga que isto nunca aconteceu”.
Recentemente, no Reino Unido, debateu-se a intenção de remover o holocausto do curriculum das suas escolas, porque era uma ofensa para a população muçulmana, a qual diz que isto nunca aconteceu. Até agora ainda não foi retirado do curriculum. Contudo é uma demonstração do grande receio que está a preocupar o mundo e a facilidade com que as nações o estão a aceitar.
Já passaram mais de sessenta anos depois da Segunda Guerra Mundial na Europa ter terminado. Escrevo este artigo em memória dos 6 milhões de judeus, dos 20 milhões de russos, dos 10 milhões de cristãos e dos 1 900 padres católicos que foram assassinados, violados, queimados, que morreram de fome, foram espancados, e humilhados enquanto uma parte do povo alemão olhava para o outro lado. Agora, mais do que nunca, com o Irão entre outros, reclamando que o Holocausto é um mito, é imperativo assegurar-se de que o mundo nunca esquecerá isso.
Depois do ataque ao World Trade Center, quantos anos passarão antes que se diga: “NUNCA ACONTECEU”, porque isso pode ofender alguns muçulmanos nos Estados Unidos ???
...................................................................................................
Nota do Editor: este artigo é, sem dúvida, tendencioso embora invoque factos reais. O relevo que lhe é dado reside na obrigatoriedade de não os esquecer. Oxalá (que linda palavra de origem árabe) não esqueçamos a história e não voltemos a olhar para o lado!.... Ao mesmo tempo, não julguemos os alemães de forma ligeira porque para sermos objetivos todos os europeus "têm culpas no cartório".
"Aos 50 anos de idade e com 20 anos de descontos como Deputado, Marques Mendes acaba de requerer a Pensão a que tem direito, no valor mensal vitalício de 2.905 euros mensais. Contudo, um trabalhador normal tem de trabalhar até aos 65 anos e ter uma carreira contributiva completa durante 40 anos para obter uma reforma de 80% da remuneração média da sua carreira contributiva.
Um povo resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas..."
E porquê ? ! ... Porque desconhece aquilo de que os portugueses sempre foram capazes e se resignam a serem manipulados por um bando de incapazes sem escrupulos. Isto é o que acontece quando um povo desconhece a sua própria história!
Não é por acaso que as "forças progressistas e democráticas" do 25 de Abril tentaram apagar ou deturpar a história. Um povo conhecedor e orgulhoso da sua história não se deixa dominar por um bando de ignorantes oportunistas.
Sigam o exemplo dos valentes do 1º de Dezembro e defenestrem todos os parasitas! ...
Estamos em Agosto de 1975. Um pequeno grupo de portugueses desembarca em Angola para ajudar a impedir a sua entrega ao colonialismo soviético.
Eram poucos. Iriam porém, mostrar em valentia sem par e altruísmo sem preço, a vontade de todo o povo real que, perplexo e traumatizado, estava incapaz de reagir à mais aviltante farsa de toda a sua História. Em nome de um povo imaginário e de liberdades paranóicas — aliás tolhidas a cada passo em pesados preços de sangue e de fome — todos assistimos à maior mentira do século: a "independência" de Angola.
Qual Angola?
A que víramos próspera, virada ao futuro, na preocupação do bem-estar das suas gentes, na riqueza da sua história, no valor da sua cultura, na grandeza e na dimensão do seu viver? Ou a que encontramos destruída, com os povos famintos a fugir de um lado a outro, para morrerem mais tarde? A que encontrámos em gritos de dor e pedindo a nossa ajuda, uma palavra de esperança, uma afirmação de que tudo era pesadelo e de que voltariam à tranquilidade do seu viver?
Qual independência?
A que trouxe a Angola a ocupação colonial por um exército estrangeiro, em flagrante conquista militar, sem quaisquer laços que liguem o povo aos ocupantes, para além da anuência de uma minoria dirigente e totalitária e porque um governo, em Lisboa — provisório mas definitivamente irresponsável — o consentiu também? O que pensa realmente deste facto trágico o povo português e desgraçadamente o que pensará o povo de Angola?
Foi um grupo pequeno que se bateu contra isto tudo. Merecem por isso o respeito e a consideração de todos os portugueses. Por se terem batido e porque se bateram bem.
Alguns pagaram cara a sua dádiva. E quando no pequeno cemitério do Ambriz desceram à terra, com toda a população a assistir em religioso silêncio, com as honras devidas e cobertos com a Bandeira Portuguesa, repetia-se apenas o que ao longo dos séculos acontecera. Mais uma vez aquela terra acolhia generoso sangue português. Ali estivemos também, meditando e sentindo mais vontade para continuar.
A história deste livro, na simplicidade do relato de uma boa parte dos combates que tiveram de travar-se, dá bem conta do que foi essa luta. Não podemos, porém, deixar de recordar também com sentido respeito os que pelo sul de Angola e em combates de gigantes, libertaram sucessivamente Pereira de Eça, Sá da Bandeira, Moçâmedes e Lobito. Ali tombaram outros tantos, que recordamos com saudade e a maior veneração.
O relatar de uma guerra, na verdade dos factos e com humildade, é privilégio dos que sabem bater-se. É este o caso, na óptica de quem o soube fazer e fazer bem. A outra história, a dos bastidores da intriga política, ficará para ser contada oportunamente. Ela terá de ser contada um dia e sê-lo-á...
Fomos derrotados naquela batalha, mas vencidos ainda não.
*
Em Julho de 1975 os soldados cubanos começaram a desembarcar em Angola. Faltavam cinco meses para a independência estabelecida nos Acordos de Alvor, e o exército cubano, apoiado por material de guerra russo pesado e sofisticado (tanques e mísseis), começou a invadir Angola.
O povo português desconhecia em absoluto este facto, porque a Informação (imprensa, rádio e TV) "mais livre do mundo" simplesmente o ocultava. Aliás, em Julho de 75 tinha também começado no norte do país o célebre "Verão quente". O povo andava atarefado em travar a escalada comunista e tinha perfeita consciência de que se o conseguisse a tempo, Angola nunca cairia sob o domínio soviético. Mas o povo do norte foi traído pelas mesmas pessoas que traíram os angolanos. Não foi por acaso que o "25 de Novembro" só aconteceu depois de consumado o "11 de Novembro", data da entrega oficial de Angola à Rússia.
A primeira importância deste livro, escrito por três Comandos Especiais que tive o orgulho de comandar, é a de provar, com a simplicidade de uma prova visível e concreta, que o exército cu-bano invadiu Angola antes da independência. Eu próprio comandei os combates que os Comandos Especiais travaram contra os cubanos em
Angola, durante os meses de Agosto, Setembro, Outubro e Novembro de 1975... Só na parte norte de Luanda, para "defender" a cidade, estacionavam seis batalhões cubanos completamente equipados, armados e municiados.
Feita a prova desta terrível verdade, surge a segunda importância deste livro: — Quem autorizou ou quem facilitou a entrada dos cubanos? Quem constituía, nessa época, o Poder em Portugal? Presidente da República, Governo e Conselho da Revolução. Muitos membros desses órgãos do Poder continuam hoje a ser governantes. Grande parte deles são os mesmos. Como é isto possível? Sobre os ombros desses homens pesa a responsabilidade da morte de milhares e milhares de homens, de mulheres e de crianças. Pesa ainda a gravíssima responsabilidade de terem impedido a libertação da nação angolana. Que povo pode ser livre, quando ocupado por um exército de 30 000 soldados estrangeiros?
Quem autorizou a entrada do exército cubano em Angola, quando o poder soberano ainda pertencia (e pertenceria durante vários meses) ao governo português?
Enquanto esta pergunta não for respondida, que importância podem ter os escândalos em que se envolvem altas figuras do regime e o que podem significar os delitos, os compromissos ou os compadrios que os levaram ao Poder? Mas enquanto houver portugueses da raça destes Comandos Especiais que foram lutar contra os cubanos, aquela pergunta há-de ter uma resposta. Não se saberá quando, mas terá de ser dada às centenas de milhar de mortos, aos que perderam a dimensão de viver e aos que vagueiam apátridas e atónitos...
*
Visto à luz da História, os Comandos Especiais eram em número ridiculamente pequeno. Apenas um punhado de homens: pouco mais de uma centena e meia.
Vieram de todos os cantos do mundo. Alguns tinham já sido Comandos, ao tempo da sua vida de militares em Angola ou em Moçambique.
Vieram espontaneamente. Nada lhes foi oferecido, e eles nenhumas condições impuseram. Claramente lhes foi dito que os Comandos Especiais iriam apenas ser a resposta altiva dum punhado de portugueses à cobardia e à traição dos que entregavam a Pátria às potências estrangeiras.
Vieram por sua própria e livre iniciativa, na louca esperança de ainda salvar o nosso povo duma desonra afrontosa e de uma perda irreparável.
Logo no primeiro recrutamento surgiram aqueles que iriam constituir a mais extraordinária, a mais inconcebível, a mais desesperada força militar que alguma vez se propôs fazer frente ao império comunista: 156 homens dispondo de reduzidíssimo armamento, dependendo quase que exclusivamente de si próprios, pois o apoio logís-tico era praticamente inexistente. Estavam dispostos a enfrentar o MPLA comunista, mas não sabiam ainda que uma das mais poderosas máquinas político-militares do mundo iria lançar abertamente todo o seu peso na luta a favor do MPLA. Igualmente ignoravam que as autoridades portuguesas iriam dar cobertura aos comunistas.
Mas mesmo que o soubessem, na altura em que se dispuseram a lutar para defender Angola da estratégia soviética, isso não os faria recuar.
Na realidade a acção desse punhado de homens começou no Verão de 75. O "Verão Quente" de Angola.
Quando se verificaram os primeiros incidentes graves, em Maio/Junho de 75, em Luanda e nas áreas que impropriamente designaram como "zonas de influência", esses incidentes deram-se apenas entre os "movimentos de libertação", MPLA incluído.
A cruzada parecia fácil. Se os Comandos Especiais tivessem de enfrentar apenas o MPLA, as coisas teriam seguido um outro rumo: nunca os comunistas teriam tido a possibilidade de tomar conta de Angola.
O Alto-Comissário que representava nessa altura o Governo Português em Angola teve uma acção claramente definida: de acordo com a letra e o espírito dos tratados, não concedeu nem concederia qualquer privilégio especial a nenhum dos três movimentos. Fixada a data da independência de Angola para 11 de Novembro, seriam até lá tratados em plena igualdade as três forças que entre si disputavam a supremacia em Angola. Mas essa correcta e imparcial acção contrariava os secretos desígnios dos chefes comunistas. O Alto-Comissário juntamente com o Comandante Militar, foram chamados de urgência a Lisboa. Em contra-partida, Rosa Coutinho foi para Luanda. Por curiosa coincidência, precisamente na altura em que eu próprio cheguei também a Angola. Estávamos em Agosto: exactamente no dia 5, desse ano de 1975.
A situação ali já não constituía segredo para ninguém: desde Junho que cubanos e russos mantinham, sem quaisquer preocupações de segredo, o seu Quartel-General em Luanda, na casa que fora do Administrador da Petrangol. Aí funcionava abertamente esse Quartel-General, com todas as secções e com todo o pessoal. Estávamos ainda en- 16 tão sob o controle do governo português, esse mesmo governo que num tratado de cariz internacional acordara não dar nem permitir que fosse dada qualquer espécie de tratamento preferencial a nenhum dos três movimentos competidores.
No entanto os soldados cubanos desembarcavam em vagas cada vez maiores em Luanda, nesse Verão de 75. Todo o material de guerra que consigo traziam, ali desembarcou à vista de toda a gente.
Quando os desembarques começaram a ser feitos em massa, em meados de Agosto, passaram a ter lugar em Novo Redondo. E era às claras que diariamente rolavam as colunas militares de soldados e material cubano e russo, rumo a Luanda. Quanto ao MPLA, o movimento que servia de cobertura a essa clara invasão comunista, estava completamente subordinado ao Quartel-General cubano de Angola.
Quem poderia ignorar estes factos? Na realidade, ninguém. Nem em Angola nem mesmo nos países vizinhos. E muito menos o governo português, ou pelo menos o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares.
Foi na própria Emissora oficial de Angola — ainda sob a tutela de Portugal e das autoridades portuguesas — foi através da própria Emissora oficial que se fizeram constantes e insistentes apelos para que voluntários se apresentassem no cais para trabalhar na descarga desse material cubano e russo. E muitos foram os trabalhadores que acabaram por ser apanhados à força — brancos e negros — e obrigados a ir para o porto trabalhar forçadamente no desembarque desse material.
*
O facto dos Comandos Especiais terem lutado contra o MPLA — e contra os cubanos e russos que os apoiavam — ao lado de Holden Roberto, poderá levar a pensar que esse punhado de homens fazia parte da FNLA.
Não é verdade.
A FNLA serviu de ponto de apoio para esses homens, cujo único objectivo não era nem o da conquista de riqueza ou fortuna, nem sequer o de passageira glória. Era simplesmente o desejo de manter Angola como nação livre e sem interferên-cias estrangeiras no caminho do seu progresso.
Os Comandos Especiais e eu próprio demos o nosso apoio à FNLA, por ser essa a via mais rápida para tentarmos deter a avalanche comunista que ameaçava ocupar Angola.
Foi esse o teor do acordo inicial com Holden Roberto a quem clara e iniludivelmente afirmei
18que nunca seriamos enquadrados nas fileiras da FNLA — com o que ele plenamente concordou.
De resto — e importa que se diga — Holden Roberto mal conhecia a realidade de Angola.
Para todos nós, para os que ali tínhamos nascido ou os que dali tinham feito a sua terra-mãe, era quase chocante ver o espanto que Holden demonstrava perante o progresso duma terra que ele tinha esperado encontrar primitiva e escravizada, árida e abandonada como a propaganda estrangeira proclamava. Como nota curiosa, posso revelar que perante uma barragem (as Molubas) já colocada fora de uso por obsoleta e apta apenas a servir em curtos períodos de emergência de apoio à barragem que servia Luanda, vimos Holden abrir os olhos de espanto perante tão "extraordinária realização"...
Noutra ocasião, na Fazenda "Tentativa", Holden viu uma fábrica de açúcar também já ultrapassada por não ter capacidade de laboração para a matéria prima que ali se produzia e que por tal motivo estava para ser desmanchada. Era uma fábrica que eu conhecia desde menino. Pois Holden Roberto não escondeu o seu espanto perante a sua "grandiosidade"...
Talvez por tudo isso, e também porque ele podia verificar que muitos de nós conhecíamos Angola desde Cabinda ao Cunene e que todos amávamos aquela terra que queríamos que continuasse a ser também nossa, talvez por isso ele nos respeitava e nos dava todo o apoio que podia.
No entanto todo o esforço desesperado desses homens que quiseram defender Angola do inimigo soviético se perdeu.
Ingloriamente, diga-se. Por vil traição.
Tanto os angolanos como os portugueses acreditaram que os representantes do governo português honrariam os seus compromissos de imparcialidade tal como haviam sido assumidos em Alvor. Não o fizeram. É já um facto historicamente comprovado que o governo português apoiou, muito antes da data da independência, a invasão dos cubanos, checos, húngaros e russos em Angola, tal como aprovou e consentiu no estabelecimento de quartéis e na distribuição de armamento, desde o mais simples ao mais sofisticado, desde as armas ligeiras aos mísseis russos, os célebres "órgãos de Staline"...
Quem permitiu, quem sancionou, quem colaborou nessa monstruosa traição que veio a culminar na entrega de Angola e Moçambique ao colonialismo soviético?
Muita gente me tem perguntado por que não entrámos em Luanda, quando a imprensa inter-nacional chegou a noticiar que estávamos à vista da cidade do dia 10 de Novembro, precisamente no morro fronteiro ao Cacuaco. Este livro será uma resposta suficiente, embora muitos aspectos não possam ainda ser revelados.
Esses heróis que se chamaram Comandos Especiais fizeram tudo quanto puderam. Lutando com desespero contra o tempo, conseguiram de facto chegar à vista de Luanda antes da data da independência, levando de roldão à sua frente as sucessivas vagas de cubanos que se interpunham entre eles e a capital. Se a tivessem conseguido atingir antes do 11 de Novembro, tê-la-iam tomado, e não seriam as guarnições cubanas, inadaptadas para a guerrilha urbana, numa cidade que desconheciam e temiam, que o poderiam ter impedido.
Mas entraves de toda a ordem condicionaram a ofensiva sobre Luanda, desde o não consentimento de manobras de diversão ou alterações de frente, até ao atrasar sistemático do assalto à cidade na sequência da primeira arrancada que em 48 horas nos levou do Ambriz ao Caxito... para nos quedarmos mais de vinte dias sem gasolina.
21As pressões que se exerceram sobre Holden Roberto — constantemente mal esclarecido e enganado — no sentido de fazer coincidir o início do assalto com a véspera do dia marcado para a independência, funcionaram deliberadamente para que não entrássemos em Luanda. A artilharia abandonou as posições sem qualquer aviso e exactamente quanto mais dela carecíamos para o assalto ao Morro de Quifandongo o qual, uma vez tomado, abriria o caminho para a cidade em terreno plano e sem obstáculos.
Por tudo isto não ocupamos Luanda. Foi-nos retirado o apoio de fogo pesado dos dois obuses de 140, abandonados mais tarde em Ambrizete e transformados em massas de ferro inútil porque as suas guarnições — evacuadas de helicóptero — levaram as culatras...
Ali ficamos sob intenso fogo do inimigo. O barulho da onda de mísseis parecia uma terrível e contínua trovoada. Os Comandos Especiais ficaram colados ao terreno e impedidos de dar resposta.
Ali ficou só um punhado de Comandos Especiais no dia 10 de Novembro, véspera do dia fixado para a independência. Tudo havia retirado. Do nosso posto de observação sobranceiro à cidade que não havíamos podido alcançar, vi sair do porto
22de Luanda a fragata que levava as autoridades portuguesas.
Eram quatro horas e meia da tarde do dia 10 de Novembro de 1975.
Os Comandos Especiais olharam o silencioso afastamento daquela fragata que levava no convés apinhado de gente os últimos restos de uma presença de cinco séculos. As lágrimas de raiva e de impotência rolaram pelas faces dos Comandos que o sol de Angola curtira. A fragata lançou ferro no limite das águas costeiras e ali ficou parada até à meia-noite. Num arremedo de macabra farsa, à meia-noite em ponto, esse navio da Armada Portuguesa iluminou em arco e salvou a terra...
Depois, como que num silêncio de vergonha, fez-se ao largo.
O branqueamento do sucedido no pós-25 de Abril em Portugal, tem sido feito por Otelo Saraiva de Carvalho que, na efeméride dos 34 anos, se dividiu em deambulações por cá e pela “estranja” fazendo afirmações inconcebíveis e resultantes do facto de terem ficado prescritos os seus crimes cometidos a liderar os terroristas das Forças Populares 25 de Abril. Ele fora condenado na 1.ª instância, em 1987, em 15 anos de prisão pelo crime de terrorismo, com agravamento pelo Tribunal da Relação e do Supremo Tribunal de Justiça para 17 anos. Por proposta de Mário Soares antes de sair da Presidência da República, a Assembleia Legislativa aprovaria uma amnistia com os votos contra do CDS e PSD, onde se encontrava José Pacheco Pereira que, nos debates afirmou que Otelo não merecia ser amnistiado. Tal posição era baseada no facto dele, numa entrevista ao Expresso, ter afirmado que a morte de uma criança pelos terroristas das FP25 tinha sido um erro técnico. E acrescentava: “Este cinismo não pode ser amnistiado”. Continuavam por julgar os crimes de sangue que, segundo se constou, os deputados da maçonaria não consideravam poder ser amnistiados. Assim, de 2001 a 2003 decorreu a saga dos recursos, que acabaria com o desleixo de um magistrado do Ministério Público, que deixou expirar o prazo para se poder recorrer para o Supremo Tribunal de Justiça. Tal conjuntura resultaria de uma decisão do Tribunal Constitucional, que, segundo o Juiz Adelino Salvado, “irá também acontecer no caso da Casa Pia e vai levar ao aniquilamento do sistema” (António José Vilela/2004). Assim, Otelo acabou por “virar santinho” e, na sua opinião, uma vítima do sistema, permitindo-se que determinados órgãos de CS nacionais e estrangeiros lhe dêem cobertura mediática e tenha levado mesmo um deputado do PS, num recente programa da RTP1, a vir fazer a sua defesa e admoestar os deputados de PSD e CDS, lá presentes, por virem lembrar as suas responsabilidades nos actos vergonhosos praticados ao longo do PREC e da escabrosa actividade nas FP25.
Batalhas Esquecidas NA MARINHA DO MALAWI, AO SERVIÇO DE PORTUGAL
Durante seis anos, o Antigo Regime dominou por completo a armada de um país que faz fronteira com Moçambique, numa guerra secreta que deu muitos frutos.
Serafim Lobato (Jornalista, Licenciado em História, Mestre em estudos Portugueses pela Universidade Aberta)
A Marinha de Guerra do Malawi foi comandada e orientada, entre 1968 e 1974, por oficiais da Armada portuguesa. Estes não representavam oficialmente, o executivo de Lisboa. Agiam como “desertores”, classificação informal que adquiriam ao “abandonar” a “Briosa” para se transferirem, de armas e bagagens, para o “outro lado”. Na realidade, estavam em total consonância com a hierarquia castrense. Ao serviço do Estado lusitano. Foi a operação “secreta” mais prolongada e eficaz do Antigo Regime nas colónias portuguesas, nos 13 anos de guerra. Não existem documentos oficiais já desclassificados que confirmem esta aventura longa de sete anos. São os protagonistas que as descrevem.
O Malawi, a antiga colónia britânica do Niassalândia, não tem saída para o mar. A sua grande bacia hidrográfica é o lago Niassa, que serve três países – além daquele, também a Tanzânia e Moçambique, hoje todos independentes. Na altura, a questão central era de natureza militar. Deste modo, o gigantesco lago africano adquiriu, nesse enquadramento geo-político, uma relevante importância estratégica.
Os marinheiros portugueses agiam como desertores autorizados
O Malawi e a Tanzânia ascenderam à independência, mas optaram por vias diferenciadas. O primeiro, tendo Hastings Kamuzu Banda como primeiro Chefe de Estado, seguiu o nacionalismo conservador pró-ocidental. O segundo, liderado por Julius Nyerere, defendeu o nacionalismo progressista, terceiro-mundista, buscando apoios, essencialmente, na antiga União soviética e na China. O regime tanzaniano era o “santuário” de retaguarda da FRELIMO (a Frente de Libertação de Moçambique), que lutava pela independência do território desde 1964. A operação “encoberta” iniciou-se em 1968. Após negociações, Portugal e o Malawi acertaram a troca de uma lancha de fiscalização pequena (LFP), sediada em Matangula (Lago Niassa), para um porto do mesmo lago em Nkata Bay. No dia aprazado, realizou-se uma cerimónia especial em Metangula – o nome oficial da povoação era Augusto Cardoso – para a transferência da lancha. Um documento oficial – aliás, o único que foi possível consultar – existente no Arquivo da Marinha de Guerra regista a cerimónia. Em augusto Cardoso, a “castor”, que foi baptizada com o nome de John Chilembwe (nome de um herói do país), foi entregue na presença de entidades dos dois países.
Socorremo-nos de citações copiadas do documento, pois não nos foi permitido fotocopiar: “A 5 de Agosto de 1968, em Augusto Cardoso/Metangula, e conforme notas diplomáticas tomadas entre Portugal e o Malawi”, foi a lancha de fiscalização “castor”, da Armada portuguesa, transaccionada “por empréstimo”. Na cerimónia, Portugal estava representado pelo então comodoro Tierno Bagulho, Comandante Naval de Moçambique, e “em representação” do governo do Malawi, aleke Banda, ministro da economia e presidente do ‘Malawi Youngers Pioneers’. Tudo muito formal. À margem desta história, recorde-se que Tierno Bagulho, que ocupou depois o cargo de Presidente do Supremo Tribunal Militar, foi um dos três oficiais-generais das Forças Armadas que se recusaram, em Março de 1974, após o “Golpe das Caldas”, a participar no chamado “Beija-mão” ao então presidente do Conselho de Ministros, Marcello Caetano. Os outros dois foram Costa Gomes e António de Spínola, então, respectivamente, os cargos de chefe e vice-chefe do Estado Maior General das Forças Armadas. Os três já faleceram.
O comando da nova lancha ‘John Chilembwe’ vai ser assumido por um jovem oficial “desertor” da Armada portuguesa: Manuel Agrelos, já investido nas novas funções aquando da cerimónia em Matangula. É, agora, primeiro-tenente da Marinha do Malawi, quando o seu posto na Armada portuguesa, era segundo-tenente da Reserva Naval. Manuel Alexandre de Sousa Pinto Agrelos, engenheiro, era o comandante da lancha ‘Mercúrio’. Cumpria o serviço militar em Moçambique Já civil, Agrelos descreveu a sua “aventura” num relatório privado que fez, nos anos 80 do século passado, e entregou à comissão COLOREDO (a comissão da Marinha de Guerra, que recolheu dados e informações sobre a actividade nas antigas colónias, que, estranhamente, se encontram ainda sob a chancela de classificados. Na cerimónia de Metangula, o oficial português mandou arriar a bandeira, chamava-se ‘Francisco Freire’ e o “oficial malawiano que a recebeu e mandou içar fui eu”, referencia Agrelos no seu relato. Com o comandante da lancha, seguiram o marinheiro telegrafista Mário Fernandes e o cabo fogueiro Martinica, que foram graduados, respectivamente, em segundo e primeiro sargentos da Marinha do Malawi. O resto da guarnição pertencia aos ‘Young Pioneers’, uma espécie de “guarda pretoriana” do regime ditatorial de Hastings Banda.
Manuel Agrelos acabou por ser virtual ministro da Marinha do Malawi
Agrelos faz questão de assinalar no relatório que, entre os presentes na cerimónia estava o engenheiro Jorge Jardim – pai da socialite Cinha Jardim – que ali se encontrava com o estatuto de cônsul honorário do Malawi em Moçambique. Jardim ficou, aliás, o garante do pagamento do salário a Manuel Agrelos, depositando-o numa conta bancária a que o comandante da lancha tinha acesso. Manuel Agrelos continuava, no entanto, a depender da hierarquia da Marinha de Guerra portuguesa e era a esta que prestava contas por canais informais.
Na sua nova função, Manuel Agrelos foi algo mais que um simples oficial comandante de uma pequena lancha. Na realidade, tornou-se no ministro da Marinha malawiana. Sem qualquer apoio, sem experiência, montou toda a estrutura de informação que veio a servir os seus sucessores. O “agente especial” português participou em algumas reuniões do Conselho de Ministros do Malawi e teve vários encontros com o então chefe de Estado do país, Hastings Banda. Do ponto de vista estratégico-militar, graças a esta lancha, Agrelos controlava, em grande medida, o movimento de embarcações no Lago Niassa. Incluindo, portanto, as que serviam de apoio logístico à FRELIMO.
Quando se dá o 25 de Abril, as relações com o Malawi tornam-se distantes
Agrelos teve contactos mais “profundos” ou mais “ligeiros”, com altos dirigentes da FRELIMO, incluindo Eduardo Mondlane, mas o actual presidente da Federação Portuguesa de Golfe não se prontificou, até agora, a contar o “muito que soube”. Mo relatório, assinala um dos aspectos menos conhecidos da “parceria” que envolvia a passagem da embarcação que comandava para o país: a flotilha de Metangula passava a ser abastecida por gasóleo do Malawi.
A Lancha de Desembarque Média (LDM) que ia buscar o combustível levava um logótipo da SONAP e os membros da guarnição “fardas” da mesma companhia petrolífera portuguesa. A sua missão “tipo James Bond” decorreu, pacificamente, até que terminou a comissão de serviço em 1969. Manuel Agrelos pertenceu ao 9º Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval (CFORN). Do seu curso, destacado para idêntica função naquela colónia como comandante de uma LFP, foi seu camarada de armas o antigo ministro Pedro Lynce de Faria. Assim, o “agente especial” Agrelos deu lugar a outro oficial da Marinha da Reserva Naval. Outros se seguiram, incluindo alguns da Legião Naval, até ao 25 de Abril de 1974. Entretanto, o Malawi já adquirira duas lanchas portuguesas. A segunda emprestada foi a ‘Regulus’, rebatizada como ‘Chiluza’. Eram dois, agora, os oficiais lusos em actividade.
Com a revolução de Abril, a função do “James Bond” português esteve quase a terminar em tragédia. O papel de “Ministro da Marinha" exercido por portugueses foi perdendo validade. Quando se dá o 25 de Abril, as relações tornaram-se distantes. Os comandantes das lanchas eram agora oficiais fuzileiros. O primeiro, mais antigo, já veterano de guerra, chamava-se Lhano Preto e dirigia a ‘John Chilembwe’. O segundo, mais “marreta” e com “pouco tempo de mato”, era o subtenente Berbereira Ribeiro Moniz. Pertenciam ao 9º Destacamento de Fuzileiros Especiais. As lanchas navegavam com cadetes dos ‘Young Pioneers’. Estabelecera-se o distanciamento entre Blantyre e as autoridades moçambicanas. Os tempos estavam a mudar.
Os salários dos agentes portugueses eram pagos por Jorge Jardim
A revolução portuguesa transtornou definitivamente os planos de Hastings Banda. O regime democrático passou a ser olhado de soslaio e os oficiais portugueses constataram essa mudança. Em Julho de 1974, são chamados à capital malawiana. Recebem a indicação da embaixada portuguesa de que o melhor é voltarem a ter um passaporte português e se prepararem para o pior. Aliás, um dos oficiais, Lhano Preto, esteve retido momentaneamente nesse período, mas acabou por ser mandado seguir para Monkey Bay. Quando chegaram ao local verificaram que as lanchas tinham desaparecido. Vieram a saber que os cadetes as fizeram seguir para uma baía mais a sul, onde se esconderam
As “manobras” do regime de Banda foram comunicadas ao comando da esquadrilha do Niassa, que, por outro lado, recebera a indicação de Lisboa para fazer a entrega, formal e definitiva, das duas lanchas ao Malawi. Foi nesta situação de ambiguidade que o comandante da esquadrilha, o então primeiro-tenente da Marinha Ribeiro Ferreira (hoje vice-Almirante na reserva) decidiu zarpar para resgatar os oficiais que julgava detidos. Em acto belicoso, entrou em Monkey Bay, preparado para uma batalha naval com o apoio de duas lanchas de fiscalização, uma pequena Lancha de Fiscalização de Pesca, uma Lancha de Desembarque Média e um destacamento de fuzileiros. Não foi preciso usar a força. Afinal, os portugueses já estavam em liberdade e aguardavam na praia de Monkey Bay a chegada da frota para se fazer a transferência pacífica das lanchas.
Os “agentes portugueses” regressaram às suas unidades. Jorge Jardim passou a fora da lei e refugiou-se no Malawi. Era agora “persona non grata” do novo regime português. Findara deste modo, a nossa missão no Malawi. A maior parte dos nossos “Bonds malawianos” ainda é viva. São hoje pacatos cidadãos que recordam essas memórias… Serafim Lobato
Estou cada vez mais confuso, p. f., ajudem-me. Li atentamente um texto que me foi reencaminhado por um antigo meu instrutor de Operações Especiais. O texto, fez-me recordar duas coisas, uma recente em que apareceu (aparece) na TV uma senhora , mulher ou “Gaja” , dependendo do ponto de vista do telespectador ou do lado da trincheira em que o mesmo se encontra, que entra muda, sai calada, em que não se percebe bem, qual o seu papel. Há quem diga que é uma “MISS”, outros uma tal de Mântua, há quem diga até que será a célebre “Maria Turra” que, nos idos anos 60/70 se ouvia no Norte de Angola e que servia de amplificador sonoro do tal MV, ou M qualquer coisa, não sei o quê. A outra coisa que me recordo, com mais anos de facto, é que os Furriéis Álvaro V. Mesquita, Armindo Veloso, e os Alferes Daniel Fonseca, Vale Leitão, Rogério de Carvalho, Eusébio Silva, Fraga de Carvalho, Borges Macêdo e Nogueira Lebres, estes entre muitos outros Oficiais, Sargentos e Praças, foram mortos em combate com a ajuda de pequenas traições praticadas por actos e palavras dos MVs dos nossos tempos. Se é certo que alguns Oficiais ainda vivos, aposentados ou não, arrependidos ou não, ficarão lisonjeados por terem pessoas com este cariz, como seu comandante supremo, eu, um simples Miliciano que fui, um mero cidadão que sou, por respeito aos Camaradas e amigos mortos em combate, tudo farei para que um qualquer, mesmo dizendo “eu não tenho medo”, nunca em qualquer circunstância, venha a ser o meu PR. Às Mãe, aos filhos, aos irmãos, aos amigos dos cerca de 10.000 que se encontram perpetuados no Forte do Bom Sucesso em Belém: ACORDEM ! . . .
Mikhail Kalashnikov, que completou 90 anos de idade no passado mês de Novembro, é o mais conhecido dos construtores de armas e a sua metralhadora equipa mais de 50 exércitos e decorou ou ainda decora bandeiras e escudos de alguns países. Alguns consideram-no o "senhor da morte", mas Kalashnikov responde que as suas armas "são para defender, não para atacar". Mikhail Timofeevitch Kalashnikov nasceu a 10 de Novembro de 1919, numa família camponesa das Montanhas Altai, que, durante a colectivização comunista na URSS, foi considerada "kulaks" (camponeses abastados) e desterrada para a Sibéria em 1930. O jovem Kalashnikov, após introduzir "algumas emendas" nos seus documentos a fim de esconder o seu estatuto social, foi trabalhar para os caminhos-de-ferro no Cazaquistão em 1936. Dois anos depois, foi mobilizado para o Exército Vermelho, no qual começou a revelar as suas capacidades no campo do fabrico de armamentos. A sua primeira invenção foi um contador de disparos para tanques. Em Agosto de 1941, partiu para a frente de combate contra as tropas nazis que tinham invadido a União Soviética, mas foi gravemente ferido passados apenas dois meses. Foi precisamente durante os seis meses de internamento num hospital que Kalashnikov criou a sua primeira arma automática, que não foi bem recebida pelo comando militar. "A pistola-metralhadora de Kalashnikov é mais complicada e mais cara no fabrico do que a PPCh-41 e a PPC e exige aturados e difíceis trabalhos de torneiro. Por isso, não obstante os muitos aspectos positivos (pouco peso, curta, poder de disparar tiro a tiro, etc.), actualmente não tem interesse industrial", concluiu o Departamento de Armas do Exército Vermelho em 1941. As qualidades da nova pistola automática só foram reconhecidas em 1947, tendo os primeiros 1500 exemplares da famosa "AK-47" sido entregues às forças armadas soviéticas em 1949. Depois, vieram outras metralhadoras mais perfeitas como a "AKM", "PDK", "PKT" e "AK-74". Estas armas ligeiras trouxeram ao seu criador fama nacional e internacional, colocando-o entre as personalidades mais importantes do século XX e não há praticamente nenhuma condecoração soviética e russa que Kalashnikov não tenha recebido: desde os prémios Estaline e Lenine, com que foi condecorado na era comunista, até à Ordem do Santo Príncipe Dmitri Donskoi, concedida pela Igreja Ortodoxa Russa em 2007. Kalashnikov não se lamenta pelo facto de a invenção da "AK" não lhe ter trazido riqueza: "Eu não tinha a percentagem da produção da 'AK-47' que recebiam os construtores ocidentais pelas suas descobertas, porque não foi registada a patente da minha descoberta na URSS. Mas não pensem que sou um pobre, eu não vivia mal durante o poder soviético". A "AK" esteve ou ainda está representada em bandeiras e escudos de vários Estados e de grupos militares, como Burkina-Faso, Moçambique, Timor-Leste, Zimbabué ou o Hezbollah. "Em Moçambique, os combatentes pela liberdade conquistaram a independência com a minha metralhadora nas mãos. Agora, chamam aos seus filhos Kalash. Dizem que há lá em cada aldeia dezenas de crianças negras com o nome de Kalash. Isso não é agradável?", escreve Kalashnikov nas suas memórias, e acrescenta: "Eu criei a minha arma para defender as fronteiras da Pátria, e não para atacar". Por isso, dói-lhe ao saber que as suas armas são empregues nos conflitos "entre as repúblicas do Cáucaso, noutras regiões do país".
Declarações do escritor, dissidente soviético, VladimirBukovsky sobre o Tratado de Lisboa
"É surpreendente que após ter enterrado um monstro, a URSS, se tenha construído outro semelhante: a União Europeia (UE). O que é, exactamente a União Europeia? Talvez fiquemos a sabê-lo examinando a sua versão soviética. A URSS era governada por quinze pessoas não eleitas que se cooptavam mutuamente e não tinham que responder perante ninguém. A UE é governada por duas dúzias de pessoas que se reúnem à porta fechada e, também não têm que responder perante ninguém, sendo politicamente impunes. Poderá dizer-se que a UE tem um Parlamento. A URSS também tinha uma espécie de Parlamento, o Soviete Supremo. Nós, (na URSS) aprovámos, sem discussão, as decisões do Politburo, como na prática acontece no Parlamento Europeu, em que o uso da palavra concedido a cada grupo está limitado, frequentemente, a um minuto por cada interveniente. Na UE há centenas de milhares de eurocratas com vencimentos muito elevados, com prémios e privilégios enormes e, com imunidade judicial vitalícia, sendo apenas transferidos de um posto para outro, façam bem ou façam mal. Não é a URSS escarrada? A URSS foi criada sob coacção, muitas vezes pela via da ocupação militar. No caso da Europa está a criar-se uma UE, não sob a força das armas, mas pelo constrangimento e pelo terror económicos. Para poder continuar a existir, a URSS expandiu-se de forma crescente. Desde que deixou de crescer, começou a desabar. Suspeito que venha a acontecer o mesmo com a UE. Proclamou-se que o objectivo da URSS era criar uma nova entidade histórica: o Povo Soviético. Era necessário esquecer as nacionalidades, as tradições e os costumes. O mesmo acontece com a UE parece. A UE não quer que sejais ingleses ou franceses, pretende dar-vos uma nova identidade: ser «europeus», reprimindo os vosso sentimentos nacionais e, forçar-vos a viver numa comunidade multinacional. Setenta e três anos deste sistema na URSS acabaram em mais conflitos étnicos, como não aconteceu em nenhuma outra parte do mundo. Um dos objectivos «grandiosos» da URSS era destruir os estados-nação. É exactamente isso que vemos na Europa, hoje. Bruxelas tem a intenção de fagocitar os estados-nação para que deixem de existir. O sistema soviético era corrupto de alto a baixo. Acontece a mesma coisa na UE. Os procedimentos antidemocráticos que víamos na URSS florescem na UE. Os que se lhe opõem ou os denunciam são amordaçados ou punidos. Nada mudou. Na URSS tínhamos o «goulag». Creio que ele também existe na UE. Um goulag intelectual, designado por «politicamente correcto». Experimentai dizer o que pensais sobre questões como a raça e a sexualidade. Se as vossas opiniões não forem «boas», «politicamente correctas», sereis ostracizados. É o começo do «goulag». É o princípio da perda da vossa liberdade. Na URSS pensava-se que só um estado federal evitaria a guerra. Dizem-nos exactamente a mesma coisa na UE. Em resumo, é a mesma ideologia em ambos os sistemas. A UE é o velho modelo soviético vestido à moda ocidental. Mas, como a URSS, a UE traz consigo os germes da sua própria destruição. Desgraçadamente, quando ela desabar, porque irá desabar, deixará atrás de si um imenso descalabro e enormes problemas económicos e étnicos. O antigo sistema soviético era irreformável. Do mesmo modo, a UE também o é. (…) Eu já vivi o vosso «futuro»…"
Em boa hora o MIL tomou a iniciativa de escrever, à companhia de aviação "Ibéria", a carta aberta que abaixo transcrevemos. Desde há muito que se impunha uma iniciativa destas perante a forma arrogante e depreciativa como as empresas espanholas se comportam no mercado português.
Se considerarmos a forma como o governo castelhano de Madrid trata os restantes povos da Penìnsula Ibérica que tem debaixo da sua bota, atitudes como as que abaixo se referem não deveriam surpreender.
Está, pois, o MIL de parabéns.
«CARTA ABERTA AO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA “IBÉRIA”
Excelentíssimos Senhores:
1. Como devem saber, as empresas de aviação civil que operam em Portugal são obrigadas a cumprir a legislação nacional e a respeitarem a cultura e a língua nacionais. Para poderem realizar as suas operações entre nós, recebem um alvará, emitido pela ANA e é a ASAE que é responsável pelo estrito cumprimento da lei nas suas operações. Daí, por exemplo, uma recente queixa à ASAE relativa à “Easyjet”, dado que a empresa britânica recusava as reclamações de perda de bagagens que não usassem a língua espanhola ou inglesa, conforme foi amplamente noticiado nos meios de comunicação social.
2. Embora opere em Portugal e tenha que cumprir a legislação portuguesa, a Ibéria mantém no nosso país apenas um escritório de vendas. Fazem reservas de segunda-feira a Domingo, mas, ainda que estejam a vender em Portugal e a portugueses, não se dignam a falar em português fora deste período conforme se constata na sua página web:
"Portugal
Reservas
707 200 000 (Português) De 09:00 a 20:00 horas locais de Segunda a Domingo.
(Inglês e Espanhol) 24 horas de Segunda-Feira a Domingo."
3. Mas isto não é o mais grave: se um cliente português quiser apresentar uma reclamação pelo mau serviço prestado, o escritório da Ibéria em Portugal não o aceita. Nem aceita um correio eletrónico, nem um fax nem uma carta. Obriga os clientes portugueses, que compram e pagam os seus bilhetes em Portugal a uma empresa certificada para operar em Portugal, a enviarem uma carta em inglês ou em castelhano.
4. Nessa medida, o MIL, enquanto entidade que, sem complexos, defende, de forma coerente e consequente, a Lusofonia, irá apresentar uma reclamação junto do Instituto do Consumidor, da ANA e da ASAE:
i) Porque a Ibéria não cumpre a lei do consumidor em vigor e recusa a apresentação de reclamações em língua portuguesa;
ii) Porque a Ibéria mantém um serviço de venda (reservas) em língua não portuguesa, em Portugal (o número verde é de uma operadora nacional);
iii) Porque ainda que sejam portugueses uma parcela muito significativa dos seus clientes, a empresa não mantém a língua portuguesa no seu serviço de comunicações. Algo que, de resto, seria muito fácil, tendo em conta que na própria Espanha há já 3 milhões de falantes do Português da Galiza (língua galega).
Afinal os métodos do Congresso Nacional Africano ( ANC ) não eram muito diferentes do regime opressor sul-africano.
Artigo do Sunday Times
"Durante a luta contra o regime do apartheid, o ANC dispunha de um “campo de reeducação” em Quibaxe, Angola, para onde eram enviados, sob prisão, combatentes do ANC suspeitos de serem “agentes do inimigo” e “infiltrados”. Criado em 1979, o reduto da tortura e da morte tinha a designação de “Campo Quatro” cujas condições foram descritas como sendo piores do que as existentes nas masmorras do antigo regime segregacionista de Pretória.
Paul Trewhela, autor do livro, «Inside Quatro: Uncovering the Exile history of the ANC and Swapo», cita um dos antigos prisioneiros do chamado campo de reeducação como tendo dito que “ao entrar nesse local, os direitos humanos são para esquecer”.O campo dispunha de sete celas comunais, algumas das quais haviam sido usadas como armazéns durante o período colonial, para além de cinco celas solitárias, todas elas superlotadas. Dispondo de ventilação mínima, as condições das celas eram sufocantes, escuras e húmidas, mesmo no clima seco e quente de Angola. O próprio presidente do ANC, Oliver Tambo, foi forçado a comentar, após uma visita ao reduto em Agosto de 1987, que as celas do campo Quatro eram “muito escuras e sufocantes”.
Localizado a cerca de 15 km da vila de Quibaxe, a norte de Luanda, o Campo Quatro era um dos mais temidos campos secretos de que o ANC dispunha, ao qual apenas alguns dirigentes deste movimento (Mzwandile Piliso, Joe Modise, Andrew Masondo e ainda o então secretário-geral do Partido Comunista Sul-Africano (SACP), Moses Mabhida) tinham acesso. A administração do campo estava entregue a membros das forças de segurança, a maior parte dos quais quadros jovens do SACP que, tal como Moses Mabhida, haviam colhido ensinamentos em Moçambique país onde também foram edificados redutos semelhantes, igualmente designados de “campos de reeducação” por onde passaram milhares de cidadãos moçambicanos durante o período da ditadura."
Deixo aqui o meu modesto contributo para ajudar a desmistificar o conteúdo desse livro de António Lobo Antunes que não li, no intuito de evitar que gerações posteriores retenham uma imagem falsa da actuação das nossas gentes numa Guerra que não poderemos nunca ignorar e esquecer. Distancio-me, no entanto, de alguma fraseologia precedente, nesta mensagem, quer por parte dela, na minha opinião, ser impertinente para o tema em questão quer pela descontextualização em que se insere.
Um escritor, mesmo ficcionando sobre um tema como este, deverá, a meu ver, ter preocupação de não distorcer realidades históricas, sob pena da sua obra ser ignorada ou menosprezada pelos leitores que viveram essa realidade.
Li e tenho o livro "Os Cus de Judas" de Lobo Antunes, tema todo ele dedicado à sua permanência nas Terras-do-Fim-do-Mundo (Os Cus-de-Judas). Li com satisfação, gostei muito, talvez por se reportar a chãos que já pisei.
Conquistando os Corações Se Vence A Luta - esse era o lema do Batalhão de Caçadores 2872 - o meu Batalhão. Este lema anula qualquer alusão selvática da nossa postura em terras de além-mar. Fiz parte da Companhia de Caçadores 2506, que teve um único morto (por suicídio, em Teixeira de Sousa) e vários feridos em acidentes, alguns dos quais evacuados para a Metrópole e que não regressaram mais a Angola. Como o meu Batalhão ficou, logo à chegada a Luanda, às ordens do Quartel-General, como reforço operacional, a minha Companhia, nos intervalos de serviço à Rede que circundava Luanda, fez duas operações no Norte de Angola, mais propriamente no Zenza do Itombe. Deslocámo-nos depois para o Kuando-Kubango (as chamadas Terras-do-Fim-do-Mundo) onde permanecemos durante 10 meses na Coutada de Mucusso a reforçar o Batalhão de Cavalaria 2870, a que o César faz referência no texto anterior. Lá, as Nossas Tropas sofreram feridos vários e alguns mortos do Grupo Flechas, que actuavam conjuntamente connosco. Vítima de uma Mina Anti-Carro, morreu também um Condutor da Companhia de Transportes, sediada em Serpa Pinto, de seu nome Maia e que era do Montijo, que se deslocou à Coutada integrado numa coluna para apoio logístico com vista a uma operação de grande envergadura que se veio a realizar na área. Rodámos, depois, para o Leste, mais propriamente para Lucusse, próximo ao Luso, onde terminámos a Comissão.
Dos citados, deixo aqui um abraço ao Cruz, que vive no Porto, ao David Ribeiro, meu colega de profissão e de Banco, e ao Favas Cabelo, ribatejano, que sei que está doente, e que já não vejo há mais de 40 anos.
Custa-me encontrar um título apropriado à escrita de António Lobo Antunes que, podendo ganhar dinheiro com a profissão de médico, prefere a escrita para envergonhar os portugueses.
Talvez este início de crónica escandalize quem costume venerá-lo. Eu, por maior benevolência que para com ele queira usar não posso, nem devo. Por várias razões, algumas das quais vou enunciar. Porque não gosto de atirar a pedra e esconder a mão. Este senhor foi mobilizado como médico, para a guerra do Ultramar. Nunca terá sabido manobrar uma G-3 ou mesmo uma Mauser. Certamente nem sequer chegou a conhecer a estrutura de um pelotão, de uma companhia, de um batalhão. Não era operacional mas bota-se a falar como quem pragueja. Refiro-me ao seu mais recente livro: Uma longa viagem com António Lobo Antunes. João Céu e Silva pode reclamar alguns méritos deste tipo de escrita. Foi o entrevistador e a forma como transpõe as conversas confere-lhe alguma energia e vontade de saber até onde o entrevistado é capaz de levar o leitor. Mas as ideias, as frases, os palavrões, os impropérios, as aldrabices - sim as aldrabices - são de Lobo Antunes. Vejamos o que ele se lembrou de vomitar na página 391: «Eu tinha talento para matar e para morrer. No meu batalhão éramos seiscentos militares e tivemos cento e cinquenta baixas. Era uma violência indescritível para meninos de vinte e um, vinte e dois ou vinte e três anos que matavam e depois choravam pela gente que morrera. Eu estava numa zona onde havia muitos combates e para poder mudar para uma região mais calma tinha de acumular pontos. Uma arma apreendida ao inimigo valia uns pontos, um prisioneiro ou um inimigo morto outros tantos pontos. E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens. Tudo contava, e como quando estavam mortos valiam mais pontos, então não fazíamos prisioneiros».
Penso que isto que deixo transcrito da página 391 do seu referido livro, se vivêssemos num país civilizado e culto, com valores básicos a uma sociedade de mente sã e de justiça firme, bastaria para internar este «escriba», porque todo o livro é uma humilhação sistemática e nauseabunda, aos Combatentes Portugueses que prestaram serviço em qualquer palco de operações, além fronteiras. É um severo ataque à Instituição militar e uma infâmia aos comandantes de qualquer ramo das Forças Armadas, de qualquer estrutura hierárquica e de qualquer frente de combate. Isto que Lobo Antunes escreve e lhe permite arrecadar «350 contos por mês da editora» (p. 330), deveria ser motivo de uma averiguação pelo Ministério Público. Porque em democracia, não deve poder dizer-se tudo, só porque há liberdade para isso. Essa liberdade que Lobo Antunes usou para enriquecer à custa o marketing que os mass media repercutem, sem remoques, porque se trata de um médico com irmãos influentes na política, ofendeu um milhão de Combatentes, o Ministério da Defesa, uma juventude desprevenida, porque vai ler estes arrotos literários, na convicção de que foi assim que fez a Guerra, entre 1961 e 1974. E ofende, sobretudo, a alma da Portugalidade porque a «aldeia global» a que pertencemos vai pensar que isto se passou na vida real nos finais do século XX.
Fui combatente, em Angola, uns anos antes de Lobo Antunes. Também, como ele fui alferes miliciano (ranger). Estive numa zona muito mais perigosa do que ele: nos Dembos, com operações no Zemba, na Maria Fernanda, em Nuambuangongo, na Mata Sanga, na Pedra Verde, enfim, no coração da guerra. Nunca um militar, qualquer que fosse a sua graduação ou especialidade, atirou a matar. Essa linguagem dos pontos é pura ficção. E essa de fazer cordões com orelhas de preto, nem ao diabo lembraria. E pior do que tudo é a maldade com que escarrou no seu próprio batalhão que tinha seiscentos militares e registou centena e meia de baixas...Como se isto fosse crível! Se o seu comandante que na altura deveria ser tenente-coronel, mais o segundo comandante, os capitães, os alferes, os sargentos e os soldados em geral, lerem estas aldrabices e não exigirem uma explicação pública, ficarão na história da guerra do Ultramar como protagonistas de um filme que de realidade não teve ponta por onde se lhe pegue. Em primeiro lugar esta mentira pública atinge esses heróicos combatentes, tão sérios como todos os outros. Porque não há memória de um único Batalhão ter um décimo das baixas que Lobo Antunes atribui àquele de que ele próprio fez parte. É preciso ter lata para fazer afirmações tão graves sobre profissionais que para serem diferentes deste relatório patológico, basta terem a seu lado a Bandeira Portuguesa e terem jurado servi-la e servir a Pátria com honra, dignidade e humanismo. Não conheço nenhum desses seiscentos militares que acolheram António Lobo Antunes no seu seio e até trataram bem a sua mulher que lhes fez companhia, em pleno mato, segundo escreve nas páginas 249 e 250. Mereciam eles outro respeito e outros elogios. Porque insultos destes ouvimos e lemos muitos, no tempo do PREC. Mas falsidades tão obscenas, nem sequer foram ditas por Otelo Saraiva de Carvalho, quando mandou prender inocentes, com mandados de captura, em branco e até quando ameaçou meter-me e a tantos, no Campo Pequeno para a matança da Páscoa. Estas enormidades não matam o corpo, mas ferem de morte a alma da nossa Epopeia Nacional.
O dia 11 de Novembro está ligado a dois acontecimentos da história de Portugal que não podem ser ignorados. As datas de 11 de Novembro de 1918 e de 11 de Novembro de 1975. Apesar de as separem 57 anos, em ambas, as Forças Armadas tiveram um papel de relevo.
Em 11 de Novembro de 1918, foi assinado o armistício que pôs fim à I Guerra Mundial, na qual Portugal decidiu participar para garantir, em caso de vitória, que teria assento na futura conferência onde seriam discutidas as sanções de guerra que, inevitavelmente, iriam abranger as colónias alemãs e redesenhar o mapa colonial africano. Foi uma decisão que demonstrou elevado discernimento político, ao prever que se os ingleses saíssem vitoriosos não deixariam de tentar deitar a mão às colónias portuguesas. A posse das colónias ficou garantida e o Exército comportou-se de forma exemplar.
Em 11 de Novembro de 1975, aconteceu tudo exactamente ao contrário ! Angola deixou de ser território português e as Forças Armadas, depois de terem cumprido o seu dever de forma exemplar ao longo de 14 anos de guerra, tiveram um comportamento vergonhoso nos meses que antecederam a independência.
Embora estes acontecimentos estejam em extremos opostos na escala de valores há, porém, um acontecimento que os une. Nos últimos anos, em todos os dias 11 de Novembro realizam-se cerimónias, ao longo de Portugal inteiro, em homenagem aos combatentes mortos na I Guerra Mundial, organizadas por militares e com larga participação das Forças Armadas. Embora a intenção seja a melhor, estas cerimónias, se bem as analisarmos, constituem um acto de cinismo atroz. Como é possível umas Forças Armadas que ainda têm nas suas fileiras, ou a elas ligados, responsáveis participantes na vergonhosa descolonização, terem o desplante de homenagear militares que morreram para defenderem o que os homenageantes anos mais tarde traíriam ?... Dirão que “não é uma nuvem que faz a tempestade”, “que em todos os rebanhos há uma ovelha ranhosa”, “que é necessário separar o trigo do joio” ( ! ) …pois é !... É exactamente isso que falta fazer !... As Forças Armadas se querem recuperar o prestígio que sempre tiveram e que, sem dúvida, perderam em 1975, terão de se depurar a elas próprias. Não é com uma campanha de marketing, como o general Loureiro dos Santos ainda há pouco afirmou num programa de televisão, que as Forças Armadas poderão recuperar o respeito da sociedade civil. É levando a julgamento todos os implicados e responsáveis pelos desvarios, pelos actos de covardia, pelas traições, pelo abandono dos seus compatriotas, que as Forças Armadas poderão recuperar o respeito dos portugueses. Não é necessário fazer uma lista com os nomes daqueles que deveriam ser levados a tribunal, para serem ilibados ou condenados, porque são do domínio público. Desde dois presidentes da República, a dois alto-comissários, ao comandante do Coplad, ao comandante da Polícia Militar e a muitos outros que facilmente serão identificados, todos deverão ser chamados a prestar contas das suas actuações. Mas há um nome que sobressai de entre todos os protagonistas desta tragédia, pela forma vergonhosa e descarada como permitiu que o MPLA dominasse as FA e imperasse em Luanda, dando cobertura a muitos dos crimes que aquele movimento cometeu : o então alto-comissário almirante Rosa Coutinho, apelidado de “almirante vermelho”. Ao desembarque de milhares de militares cubanos, às prisões efectuadas pela Polícia Militar e pelos Fusileiros entregando os presos ao MPLA, pelas prisões feitas pelo MPLA com a conivência da Polícia Judiciária, pela subserviência ao MPLA a que obrigou muitos militares, e pela forma ignóbil como traiu a população branca, este militar deveria ser o primeiro a ser responsabilizado pelos vergonhosos acontecimentos de Angola.