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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

-"Conquistando os corações se vence a luta "

Deixo aqui o meu modesto contributo para ajudar a desmistificar o conteúdo desse livro de António Lobo Antunes que não li, no intuito de evitar que gerações posteriores retenham uma imagem falsa da actuação das nossas gentes numa Guerra que não poderemos nunca ignorar e esquecer.
Distancio-me, no entanto, de alguma fraseologia precedente, nesta mensagem, quer por parte dela, na minha opinião, ser impertinente para o tema em questão quer pela descontextualização em que se insere.

Um escritor, mesmo ficcionando sobre um tema como este, deverá, a meu ver, ter preocupação de não distorcer realidades históricas, sob pena da sua obra ser ignorada ou menosprezada pelos leitores que viveram essa realidade.

Li e tenho o livro "Os Cus de Judas" de Lobo Antunes, tema todo ele dedicado à sua permanência nas Terras-do-Fim-do-Mundo (Os Cus-de-Judas). Li com satisfação, gostei muito, talvez por se reportar a chãos que já pisei.

Conquistando os Corações Se Vence A Luta - esse era o lema do Batalhão de Caçadores 2872 - o meu Batalhão. Este lema anula qualquer alusão selvática da nossa postura em terras de além-mar.
Fiz parte da Companhia de Caçadores 2506, que teve um único morto (por suicídio, em Teixeira de Sousa) e vários feridos em acidentes, alguns dos quais evacuados para a Metrópole e que não regressaram mais a Angola.
Como o meu Batalhão ficou, logo à chegada a Luanda, às ordens do Quartel-General, como reforço operacional, a minha Companhia, nos intervalos de serviço à Rede que circundava Luanda, fez duas operações no Norte de Angola, mais propriamente no Zenza do Itombe. Deslocámo-nos depois para o Kuando-Kubango (as chamadas Terras-do-Fim-do-Mundo) onde permanecemos durante 10 meses na Coutada de Mucusso a reforçar o Batalhão de Cavalaria 2870, a que o César faz referência no texto anterior.
Lá, as Nossas Tropas sofreram feridos vários e alguns mortos do Grupo Flechas, que actuavam conjuntamente connosco. Vítima de uma Mina Anti-Carro, morreu também um Condutor da Companhia de Transportes, sediada em Serpa Pinto, de seu nome Maia e que era do Montijo, que se deslocou à Coutada integrado numa coluna para apoio logístico com vista a uma operação de grande envergadura que se veio a realizar na área.
Rodámos, depois, para o Leste, mais propriamente para Lucusse, próximo ao Luso, onde terminámos a Comissão.

Dos citados, deixo aqui um abraço ao Cruz, que vive no Porto, ao David Ribeiro, meu colega de profissão e de Banco, e ao Favas Cabelo, ribatejano, que sei que está doente, e que já não vejo há mais de 40 anos.

Autor: Carlos Jorge Mota

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